Nino Denani

Algumas semanas atrás, eu postei um vídeo aqui contando a vocês que a Magia teve o poder de, aos poucos, me tornar cada vez mais cético. Claro, hoje eu não posso me designar como tal, não posso carregar a alcunha de cético, porque o meu processo de aprendizado e descobrimento acabam por fundir certas questões as quais não levam em conta somente o caráter provacional, por assim dizer, das coisas. Em outras palavras; eu costumo buscar o cerne das questões que passam pela minha vida e isso me leva ao ceticismo, mas ainda tenho muitas questões em que acredito e isso, não é um processo cético.

A grande diferença aqui é que, enquanto eu vou buscando as respostas para as perguntas que preciso criar, por conta do tipo de trabalho que tenho e da forma como vejo a vida, sou levado a acreditar em coisas de forma momentânea, acreditar por um tempo, até que eu consiga pesquisar melhor sobre o fato para que eu possa ver, de forma sistemática e pragmática, a real questão por trás disso. Foi assim com várias coisas e hoje vou contar a vocês sobre uma delas, sobre o processo que me fez perguntar a respeito e chagar a conclusão de que deus, no final das contas, é só um conto mesmo.

Seja bem vindo, meu nome é nino Denani, sou psicanalista, pós graduado em neuropsicologia, mago hermetista e quero te convidar a falar um pouco mais sobre as artes mágicas.

Antes de mais nada, acho que preciso comentar algumas coisas com você para que o roteiro consiga caminhar sem muitos problemas, pode ser? A primeira dessas coisas é que é natural do ser humano, mudar. 

É engraçado ter que falar sobre isso, dado que a mudança é a única constante no universo; enquanto crianças nós mudamos o tempo todo, só que conforme vamos envelhecendo, esse processo de mudança se torna algo complicado e, muitas vezes, impensável. Quando crianças, nossa capacidade de aprendizado está a todo o vapor, nós somos naturalmente curiosos e nos acostumamos a fuçar a vida e nos dispormos a fazer o que devemos fazer: aprender. Esse processo já é, até, bastante romantizado nos dias de hoje: dentro das cadeiras universitárias que vão trabalhar com o ensino e aprendizado, como por exemplo a licenciatura em alguma disciplina, vamos compreendendo que, quanto mais velho ficamos,  mais difícil fica a nossa capacidade de aprendizado. Não que seja impossível aprender novos truques, mas fica mais difícil e isso por uma série de razões: nossos cérebros, se não forem bem treinados, se tornam preguiçosos e lentos, as sinapses e neurogênese acontecem em menor número e criar novas conexões neurais se torna mais dispendioso em caráter energético. Outro fator que colabora com essa dificuldade de aprender coisas novas quando ficamos mais velhos tem a ver com a nossa crescente percepção de que certas coisas dão certo em detrimento de outra e é daí que vem a teimosia dos velhos: conforme vamos passando por experiências ao longo da vida, vamos notando que algumas dão certo e outras não. Isso vai para nosso inconsciente, aquele mesmo lugar que o cérebro usa para pegar informações e responder às situações que nos são apresentadas. Quanto menos experiência temos ao longo da vida, mais difícil vai ficando termos experiências novas. 

Uma boa forma de exemplificar isso é o nosso gosto por comidas: Se nós temos muitas experiências com vários tipos de comida diferentes ao longo da vida, fica mais fácil de nós termos a vontade de experimentar coisas novas. Para pessoas que tem a vida mais difícil, por exemplo, e não conseguiram desenvolver essa característica, por conta da dificuldade da aquisição de novos ingredientes e tudo o mais, fica difícil para essa pessoa consumir novos tipos de alimentos, pois nosso cérebro não construiu cadeias neurais suficientes para que a pessoa estivesse disposta a isso, compreende? Um outro exemplo disso são as novidades tecnológicas que a sociedade propõe: sempre que uma nova tecnologia aparece, as pessoas com menor capacidade de mudança, com cérebros mais preguiçosos, tendem a resistir a isso. É aquela história: quando a lâmpada elétrica apareceu, os fabricantes de velas resistiram a isso. Alguns, mais acostumados a mudanças, mudaram sua forma de ganhar dinheiro e se adaptaram. Os outros, faliram. A internet fez isso com o pessoal do jornal e o Youtube, com o pessoal da TV. 

O processo de aprendizado contínuo e constante faz com que estejamos, de alguma forma, abertos a novos aprendizados constantemente, como se nosso cérebro estivesse “crescendo”, de forma contínua e exponencial. Quanto mais sabemos, mais vontade de saber nós temos, o que faz aquela velha frase “tudo o que sei é que nada sei” ter muito sentido, mas não do jeito que estão acostumados a tentar fazer.

Bom, então entendemos que, quanto mais velho ficamos, se não temos o costume de aprender coisas novas, de descobrir coisas novas, fica mais difícil para que a gente continue aprendendo e descobrindo essas coisas, certo? Isso tudo o que disse aqui para vocês não é achismo da minha parte, é ciência e, como sempre, os artigos que uso para embasar o que estou dizendo, estão no campo de descrição do vídeo.

Isso tudo que disse até aqui tem uma decorrência importante, pois não sei se você percebeu, mas isso tudo quer dizer que idade não necessariamente é sinônimo de sabedoria. Muitas vezes, é o oposto. 

Sabedoria tem a ver com prática. Geralmente costumamos dizer que Conhecimento é parte teórica da sabedoria e sabedoria é a parte prática do conhecimento. Isso quer dizer que sim: com idade se acumula sabedoria naquelas situações onde o conhecimento se torna prático, mas também se torna burrice, naquelas partes onde não há conhecimento e só há prática. Por exemplo: uma pessoa pode se tornar um motorista sábio quando ele dirige há muitos anos, aprendeu a conhecer as estradas, os caminhos, o próprio carro, como se deslocar bem e tudo o mais. Ele adquiriu conhecimento e transformou isso em sabedoria. Agora, um motorista também pode dirigir a vida inteira e não conhecer nada de mecânica, não conseguir contornar o trânsito pois ele não aprendeu sobre os horários de rush da cidade e nem sabe onde ficam os pontos de alagamento e tudo o mais. Tudo isso pra dizer que a idade realmente pode trazer sabedoria, mas também traz burrice, dependendo de como você leva a vida.

Excelente, mas o que tudo isso tem a ver com o meu processo de ateísmo?

CONHECE-TE A TI MESMO E CONHECERÁS OS DEUSES

Essa frase é de um dos maiores pensadores de todos os tempos: Sócrates e eu acho que ela resume bastante o meu processo de ateísmo. Eu nunca fui um bom religioso e isso se dava exatamente porque eu precisava tentar entender o que estava acontecendo. Não fazia muito sentido pra mim a colocação de certas informações que vinham de lugar nenhum só porque alguém disse que era assim que tinha que ser e esse processo me levou a descobrir coisas. A situação de olhar para os livros da bíblia, por exemplo, ao longo do catecismo e ver que um certo povo resolveu criar uma torre grande o bastante para tocar os céus e que, naquela época deus tinha ficado bravo e feito todos falarem línguas diferentes, entretanto, nos dias de hoje termos estruturas muitas vezes maiores do que as maiores estruturas feitas no mundo antigo e sem nenhum tipo de consequência, me irritava um pouco. Dizer que deus era perfeito e ao mesmo tempo que ele teve que destruir a humanidade porque tinha feito criaturas que deram errado era um insulto a minha inteligência. Por conta disso comecei a pesquisar cada vez mais sobre o que alguns especialistas diziam sobre esta figura tão controversa e que, ainda assim, era tão amada e foi mais ou menos durante meus vinte e seis, vinte sete anos, que entrei em contato com o estudo da retórica e, ao longo do período em que estava aí, conheci as famosas falácias lógicas.

Falácia é uma “trapaça intelectual” ou forma discursiva que usamos para manipular o nosso oponente de debate. Sabe aquele negócio que o pessoal faz hoje em dia quando você diz que uma determinada pessoa fez um monte de coisa ruim no governo e é respondido com “mas e o Lula, e o PT?” Então… isso é uma falácia, dado que o governo ter feito algo bom ou algo ruim não ter a ver necessariamente com a gestão anterior.

Enquanto estudava as falácias para me aprimorar na arte do discurso para, assim, conseguir ser um Mago melhor, dado que os Magos controlam narrativas, encontrei uma em particular chamada “deus das lacunas”. Essa falácia é uma espécie de evolução da falácia da ignorância e caracteriza-se por responder questões ainda sem solução com explicações, muitas vezes, sobrenaturais, que não podem ser averiguadas. Sendo sobrenaturais as respostas para as questões em aberto, provar-se-ia a existência de fatos que não podem ser entendidos pelo homem. Nessa falácia, ignora-se a realidade e apela-se para uma explicação irracional.

Em outras palavras, a falácia do deus das lacunas diz pra gente que deus meio que existe só naqueles locais onde a pessoa não consegue explicar, onde há uma lacuna de conhecimento. Sem conhecimento, é preciso de fé para a explicação, já que fé não precisa de razão, de lógica ou de comprovação. A fé exige, na verdade, a falta de tudo isso. Fé é acreditar sem saber, ou seja, fé é o que sobra… quando o conhecimento não existe.

Pode parecer bobagem isso, mas se você pensar bem, vai ver que faz todo o sentido; ao longo da história do homem, deus sempre esteve onde o homem não explica, só que felizmente, alguns de nós sempre buscamos aprender mais e isso quer dizer que, aos poucos, essas coisas vão sendo explicadas e, com isso, deus vai indo cada vez mais “pra lá”. Antes, deus ficava em uma caverna… até que entraram na caverna e não viram deus lá. Depois, deus começou a habitar no alto do monte, até que o homem subiu o monte e deus não estava lá. Deus então passou a habitar no alto da montanha, até que o homem subiu na montanha e não haviam deus ou deuses lá. Então, deus foi para o céu, mas hoje temos satélites e não temos deuses lá. Aí deus foi jogado no único lugar onde não é possível acessarmos: o lugar metafísico.

Trazendo a metáfora para a nossa vida: Antes, a chuva, os raios e tempestades eram feitas pelos deuses. Até que descobrimos como essas coisas funcionam, aí paramos de falar disso e dominamos as chuvas, raios e tempestades. Antes, os terremotos ou vulcões, as doenças, pestes, catástrofes, humores, consequências… eram terrenos dos deuses, até que aprendemos o que isso era de verdade e os deuses deixaram de existir. Simples assim.

Antes, deus era responsável pelos milagres… mas cada vez vemos menos milagres acontecendo e isso, basicamente, porque sabemos como as coisas funcionam. 

Então… o que é deus, no final das contas?

O QUE, NÃO QUEM

Aí vemos as religiões mais novas e doutrinas da nova era que resolvem o problema do lugar de deus falando que deus não precisa de um lugar, porque ele não é quem, é o que. É uma coisa, uma energia que permeia o universo, mas embora seja uma energia ainda tem uma espécie de vontade própria e tudo o mais. Acreditei nisso também por um tempo, ao longo da minha estadia na umbanda, mas aí percebi uma coisa:

Como a energia pode ter uma inteligência, se basicamente a inteligência se dá por processos neurais, ou seja, depende de um corpo?

Aqui a filosofia se perde um pouco por um tempo sugerindo que, na verdade, a inteligência é algo que fica além do corpo físico e superaria a matéria de alguma forma. Eu até sou capaz de entender de onde isso vem, pois no final das contas, quando nós pensamos parece que realmente o pensamento se dá fora de nosso corpo físico. Quando ouvimos nossa voz interna, parece que algo externo ao corpo que nos fala, dado que ouvimos essa voz e não é com o ouvido. Só que… com o tempo e meu explorar das coisas, comecei a perceber que esse lance até poderia fazer sentido, mas o universo não era um lugar tão inteligente assim. Aliás… é bem ao contrário.

Embora tudo seja feito e construído segundo uma dinâmica, esta dinâmica não necessariamente é organizada por alguém ou alguma coisa a não ser as próprias leis da física e essas leis não foram criadas, ou se foram, quem a criou é um puta dum sacana.

Para pra pensar: tudo tende ao caos e o caos só vai parar quando não tiver força suficiente para continuar. Isso quer dizer que basicamente a entropia vai continuar fazendo os sistemas tenderem a menor quantidade de energia possível, o que vai fazer com que, um dia, todos os átomos estejam tão longe uns dos outros que simplesmente tudo deixe de existir. Tudo o que fazemos tende a essa entropia e tudo o que acontece daí pra frente, é só consequência desta situação. A situação não precisa de um criador para que seja assim, ela só é porque é assim que as coisas agem e é só. Quando li o livro do astrofísico Lawrence Krauss sobre a origem do universo, A Universe From Nothing, e ele explana de uma forma bem provável de como tudo isso começou e porque tudo é como é, vemos que não há mais uma vez a necessidade de deus na equação. Aqui a gente entra na famosa expressão de Einstein sobre Deus de Spinoza: a natureza como sendo deus, mas não da forma panteísta de ver as coisas: deus seria só o que nos traria a soma de tudo o que existe. 

Conforme eu ia me aprofundando nessa história, mais efêmera ficava a figura de deus e conforme eu evoluía na umbanda, mais eu via que a existência desta entidade se tornava inútil. Se nada do que acontece depende de deus, nada do que foi feito foi por deus, então porque isso seria relevante? O primeiro passo para o ateísmo começou exatamente com essa questão. Pra que deus precisaria existir? Aqui comecei a perceber que a discussão sobre isso era irrelevante. A gente faz o que quer fazer e o que temos em resposta é simples consequência do que fizemos. Só isso.

Nesta época, esta conclusão a qual cheguei me deu primeiramente uma sensação de vazio que perdurou alguns meses. O fato de não ter ninguém olhando para nada e a percepção de que o que acontecia na minha vida era reação a uma ação que tomei e, algumas vezes, essa ação era inconsciente ou tão pequena que mal era perceptível me deixou meio que ao léu na vida. Mas isso não durou lá muito tempo porque… ao mesmo tempo que ninguém olhava por mim e isso me deixava vazio, isso trazia uma responsabilidade em cima de mim sobre os fatores da minha vida, o que fez com que, com o tempo, eu fosse assumindo esta responsabilidade. Eu não tenho que esperar as coisas acontecerem, porque elas não vão acontecer. Eu tenho que fazer com que elas aconteçam e a história de se tornar o deus do círculo que eu já aprendia na Magia, passou a fazer todo o sentido.

Quando cheguei nessa percepção, comecei a colocar as coisas em teste e fazer cada vez mais coisas pensando nas consequências dos atos. Com isso, passei a tomar conta da minha própria vida e percebi que esta ação fazia todo o sentido, pois finalmente as coisas começaram a acontecer do jeito que eu queria e na hora que eu queria. Comecei a ver que nada dependeria dessa força e isso era tão real que, no mundo atual, existem mais de quatro mil formas de ver essa força, muitas delas completamente antagônicas e que, entretanto, nenhuma delas anula a outra. Se deus realmente existisse, porque nenhuma delas é melhor?

Aqui, enquanto realmente começava a ver que a existência desta entidade não fazia muito sentido, também comecei a perceber o perigo que uma religião pode trazer aos seus fiéis e foi aqui que, concomitantemente, comecei também a me torar um anti-religioso. A religião, ao deter o significado completamente inventado de uma coisa que não existe, pode exercer a função de controle, além de qualquer outra coisa. E como Mago, eu não posso me deixar controlar.

Bom… esse não é um texto pra dizer a você que deixe de acreditar no que quer que você acredite. Sinceramente e correndo o risco de ser um pouco rude, eu não me importo com o que você faz na sua vida. Você, assim como eu, não somos tão importantes assim e se você continuar acreditando em conto de fadas ou não, realmente não faz diferença, desde que um não atrapalhe o outro com isso. A religião tende a obrigar que um atrapalhe o outro? Sim… e se você quiser a gente pode falar mais sobre isso. De qualquer forma, a única coisa que importa aqui é saber quem manda no que, quem realiza o que e quem faz o que. E a resposta para essas três perguntas é uma só.

Você.

Você está no centro da sua vida, ou deveria pelo menos. Você é quem deveria ditar as regras e você não deveria baixar sua cabeça para mais ninguém no universo. Você meio que já faz isso, adaptando deus a sua vontade, não seguindo a risca nenhuma das interpretações do que seria deus, só falta, na verdade, um pouco de coragem para você assumir que, o que acontece com você, é responsabilidade sua. Fazendo isso, posso garantir: vai doer no começo, mas sua vida vai ficar cada dia mais fácil.

Seja você o deus do seu círculo.

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Espero que você tenha uma ótima vida, que seja uma pessoa melhor do que foi até agora.  Tchau.

REFERÊNCIAS

BERNAL, Ignácio Morgado. Razões científicas para ler mais do que lemos

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/11/cultura/1484155657_662258.html

MORAN, José. Aprendendo com e ao longo da vida

http://www2.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/educacao_inovadora/vida.pdf

Deus das Lacunas. Wikipedia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Deus_das_lacunas

Victor Civita. Editor. Os Pensadores: Espinoza. São Paulo: Abril Cultural, 1983, 3a edição.

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