Nino Denani

De tempos em tempos eu resolvo fazer uma iniciativa que chamo de “Semana da Magia”, por questões de lógica. Venho fazendo, já há alguns anos, o que chamo de educação mágicka, isso por conta de obrigações de ordem: vimos, assim como muitas outras ordens, que os principais temas da magia que nós pesquisamos, acabaram por cair em ouvidos profanos e, para surpresa de zero Magos, as informações foram deturpadas por pessoas que preferiam aceitar suas próprias convicções e acabaram interpretando essas coisas à luz disso, do que fazer o que fazemos: saímos pelo mundo para pesquisar as coisas e tentar entender o que é verdade e o que é mentira, até que ponto podemos ir e quando teremos que dar um passo para trás e olhar novamente o que descobrimos.

Ao contrário do que muita gente pensa e do que muita gente prega, Magia tem muito mais a ver com o descobrimento do universo do que com a fé em algum tipo de deus ou coisa assim. Quando começamos a ver o que está acontecendo no mundo, com pessoas fortalecendo suas opiniões que são baseadas em nada além de crendice, começamos a aparecer e usar os métodos que estão nas nossas mãos, como o youtube, para tentar refrear um pouco isso.

Com isso em mente, acho que preciso trazer a primeira e mais chamativa coisa que acontece nos meandros das ordens iniciáticas e estudos místicos para tentar trazer um pouco de luz a questão e ajudar a você, curioso, adepto, estudante, a ter uma opinião um pouco mais embasada sobre esse tal contato com entidades que vemos por aí.

Você é umbandista, espírita, candomblecista, xamanista ou qualquer coisa que faz contato com espíritos? Ou é magista e entra em contato com anjos, demônios, seres de outras dimensões?

Ou é só um curioso para saber o que está acontecendo?

Este texto é para você.

O contato com entidades espirituais, que eu chamo aqui de metafísicas, sempre é um assunto complicado e muito chamativo. Quem não gostaria de conversar com um espírito que morreu durante um período interessante da história, que possa vir nos trazer mensagens e contar a verdade sobre esse período? Quem não gostaria de bater um papo com um ente que faleceu, uma mãe, um pai? Ou ainda, chamar uma entidade poderosa que pudesse realizar nossos desejos, ambições e aflições?

Pois é… acho que todo mundo gostaria disso, só que… você já reparou que isso nunca aconteceu?

Quer dizer, até temos pessoas que alegam que podem trazer mensagens de parentes falecidos, como o Chico Xavier fez em seu tempo e conseguiu bastante fama por conta disso, mas o resto… quem já conversou com um apóstolo de cristo? Quem já falou com um faraó do Egito antigo ou teve a oportunidade de bater um papo com Platão, Sócrates ou mesmo Kant? Alguém já falou com Freud, Jung? Por que ainda não descobrimos o que aconteceu na ilha de páscoa que fez os moradores construírem os moais? ou por que não chamamos alguém pra dizer porque o stonehenge foi feito?

É… há muitas perguntas sem resposta nesse mudo e basicamente porque não fazemos as perguntas certas, nós usamos esse tipo de conexão para coisas muito mais pessoais e, porque não, até egoístas.

Antes de seguir, claro, preciso só deixar claro que, embora estejamos falando de uma forma geral, é claro que tem um número bastante reduzido de pessoas que fazem as coisas num sentido mais amplo. O próprio Waldo Vieira, o Allan Kardec e alguns outros gatos pingados realmente tentaram fazer a conexão com o espiritual algo menos pessoal e mais coletivo, tentando por exemplo, desenvolver métodos para comprovar a situação. Não é segredo para ninguém que um pequeno grupo de pesquisadores encabeçados pelo físico William Crookes tentaram comprovar a tiptologia das irmãs Fox e, embora ele mesmo fosse um crédulo nos fenômenos, a Sra. Norman Culver, parente da família Fox, admitiu em uma declaração assinada que as havia ajudado durante as sessões, tocando nas meninas para indicar quando as batidas deveriam ser feitas. Ela também afirmou que Kate e Margaret revelaram a ela o método de produzir os raps estalando os dedos dos pés e usando os joelhos e tornozelos, como vemos nos livros Spiritualists, Mediums and Psychics: Some Evidence of Fraud. de Paul Kutz e também nos conta Wiliam Carpenter no Mrs. Culver’s Statement. In Mesmerism, Spiritualism, etc.: Historically and Scientifically Considered.

Também temos os pesquisadores do espiricom, hoje conhecido como TCI, transcomunicação instrumental, que tentam captar vozes do além através de aparelhos eletrônicos e tudo o mais, mas nada relevante até este ponto.

Retomando:

Claro que não é de se esperar outra coisa, no final das contas. Toda a situação de contato espiritual tem por objetivo criar uma espécie de alento aos que a procuram e eu não estou aqui para tentar tirar isso de você. Muitas pessoas que tem problemas graves com uma série de fatores ao longo da vida usam esse tipo de narrativa e, confesso, existe bastante eficácia nisso, assim como os meus queridos Caça Fantasmas Brasil e mesmo o Spooky Houses; seus tratamentos realmente tem eficácia no que diz respeito ajudar alguém a sair de algum lugar ruim e eu mesmo já comprovei isso em diversas ocasiões, de formas que ficam bem complicadas de tentar explicar racionalmente, mas que tem sim uma explicação que a gente logo vai tratar. De uma forma ou de outra, o contato com o espiritual sempre foi algo que permeou a humanidade, a sociedade e, de alguma forma, ganhou bastante notoriedade nos últimos séculos, meio por conta de nós, Magos, que pesquisavam e pesquisam sobre esse contato, meio que por conta do kardec e sua turma.

Bom, acho que, para este capítulo em particular do roteiro, já demos conta do que estou falando, certo? Então, vamos prosseguir dando o contraponto, como sempre:

MAS… TUDO ISSO É REAL?

Em primeiro lugar eu preciso contar uma coisa para vocês: Nem tudo que é real, existe, assim como nem tudo que existe, é real. Já fiz um vídeo lá no meu canal contando sobre essa história em um outro contexto, mas é essencial que você compreenda que o conceito de real, para o indivíduo, é muito mais complexo do que pode parecer e isso por conta de uma coisa que o hermetismo estuda há séculos: O todo é mente, o Universo é mental.

Enquanto uma caçambada de gente fica tentando usar isso para justificar a existência de um deus, dado que esse Todo que é mente, seria a mente desse deus, os Magos começaram a se perguntar o que faz com que seja possível nossa interação com o que há fora de nós. A partir daí, muitas coisas começaram a aparecer e a serem pesquisadas e uma coisa que nós descobrimos muito recentemente é que para olhar o que tem do lado de fora, precisamos de um aparato tecnológico do lado de dentro. seria como usar um telescópio para ver o que tem do lado de fora do planeta, entende? Ou melhor ainda: seria como usar um mouse em um computador. Vamos lá:

Imagine que você é um computador, seu cerebelo sendo o processador e o restante do cérebro, o HD. Nesses dois aparatos, estão alocadas todas as informações que guardamos durante a vida. Todas. Aparentemente esse nosso HD é infinito ou se tem um fim, é bem mais longe do que imaginávamos.

Bom, beleza. Como nosso computador “aprende”, por assim dizer? Ou melhor ainda: como ele interage com o exterior?

Através dos seus periféricos: mouse, a mesa digitalizadora, o scanner, a impressora, o monitor. Caixas de som e o que mais você instalar ali, certo? Essas coisas captam informações do exterior, dando oportunidade do processador usar as informações captadas para interagir com o que tem dentro de nós e usar essas informações para responder ao exterior, certo?

Exato!

Essa interação tem a ver com o que já está pré programado em nosso HD, o que quer dizer que um clique não necessariamente vai desencadear as mesmas funções, pq isso depende do programa instalado que estiver rodando, certo? Um clique pode ser um tiro, um salto, abrir uma janela ou selecionar uma palavra.

O que quero dizer com isso é que nada é essencialmente real e tudo é, quando falamos da nossa forma de interagir com o mundo. As nossas percepções tem muito a ver com o acúmulo de informações que tivemos ao longo da vida e que são usadas, como esses programas no exemplo, para interpretar uma determinada ação.

Olha só, se você disser a um cristão que não existe deus, ele vai ficar bolado com você, para dizer o mínimo, e todas as informações que se apresentarem a ele serão interpretadas à luz da existência desta divindade. Por isso não importa o que você diga, não importa as provas que você dê: um cristão SEMPRE vai olhar o mundo através da lente da existência deste deus. Entende? Como o cristão faz isso, em seu software interno está escrito que ele precisa agir de certa forma em certos lugares e essa forma é, ainda, reforçada por todo o grupo que nos cerca, não só em casa, com a nossa família, mas principalmente lá no templo religioso, com as pessoas que participam do evento.

É a isso que chamamos de “efeito manada” ou mais precisamente, comportamento de manada.

Isso também acontece fora do contexto religioso e, acredito eu, grande parte das brigas e discussões em relacionamentos humanos se dão por conta disso; uma pessoa age de uma certa forma e outra pessoa interpreta essa ação de forma pessoal e, por conta disso, os males entendidos nascem.

Então quer dizer que tudo é real, mesmo que não exista?

Precisamente isso. Esta forma de ver as coisas é como os psicólogos veem nossas mentes a partir das informações que damos. Um trauma de infância pode ser real para nós, quando na verdade, nunca aconteceu daquela forma. O que importa é o que ficou gravado nos nossos giros cerebrais e isso tudo interfere na forma como vemos a vida, assim como quando você instala um jogo novo no seu computador, ele interfere nos arquivos centrais do seu sistema operacional.

Tudo isso faz com que a gente possa incorporar e agir conforme a existência de espíritos, quer eles existam, quer não. Tudo depende do software que foi instalado e, principalmente, das atualizações que fazemos nele.

Isso tudo é só uma forma rebuscada de dizer algo que venho falando a você já tem algum tempo e que alguns mais sagazes conseguiram ver lá no curso Teoria da Magia, que fala exatamente… de trato com entes espirituais: A vida é feita de narrativas e as narrativas são tão potentes que literalmente, nos falam como devemos viver nossas vidas, interferindo em tudo o que fazemos. E não importa o quanto você esbraveje comigo: todos nós estamos em diversas narrativas diferentes e o que o Mago faz é somente, controlar essas narrativas de si e dos outros.

ENTÃO, COMO INCORPORAR?

Em primeiro lugar, você deve sair da narrativa vigente de diversas coisas que vão tratar disso e que tem, por fundamento, te manter preso a algum tipo de paradigma: não… você não ficará escravo disso, não terá que incorporar o resto da vida e isso não tem o poder de te controlar, no sentido de um espírito tomar seu corpo e te obrigar a fazer coisas. Você não precisa de firmezas, seguranças, assentamentos ou coisas assim. Tudo o que você precisa é… juízo e raramente temos isso, então as diversas vertentes usam esse artifício do medo para evitar que você faça caquinha.

A segunda coisa que você precisa fazer é se livrar de outra narrativa: a de que você é o ser mais potente do mundo e vai incorporar o super homem ou Jesus cristo. O que você disser quando incorporado não necessariamente é verdade, não necessariamente é a melhor coisa a se dizer e você pode errar nesse estado como em qualquer outro. Isso não te torna melhor que ninguém, por conta disso, evite ficar falando que você incorporou um parente falecido de alguém ou usar isso como desculpas para fazer o que quiser e convencer as pessoas a sua volta de que você está certo. No geral, incorporar faz isso com a gente e quem tem um pouco mais de experiência, simplesmente vai rir da sua cara.

Bom, tudo isso colocado em pratos limpos, agora vamos para a prática:

Escolha o que incorporar. Em geral, eu faço com os alunos a experiência de criar alguém. Escolha um objetivo, tipo ser mais forte, e crie uma figura que represente isso, tipo… um guerreiro viking.

Agora monte a cena: use coisas que vão te remeter a isso: use imagens, fotos, objetos. De repente, um machadinho, ou uma faca, um martelo ou qualquer coisa que te lembre isso. Você pode fazer tranças no cabelo, deixar a barba crescer, inventar alguns símbolos para desenhar usando as runas, sei lá: o importante é que você construa a cena que vai contar a história. Eu gosto de fazer a noite, porque a noite é mais calma e tem toda aquela questão do mistério e tudo o mais. E também porque gosto de fazer uma fogueira.

Acenda velas, enfim… construa sua narrativa.

Avatar criado e cena construída, você partirá para o intento em si.

Na hora e data escolhida, arrume seu cenário conforme planejado. Acenda as velas, desenhe os pantáculos. Nada disso tem importância real a não ser te colocar em uma narrativa, criar um clima. Depois de tudo isso, se posicione confortavelmente e deixe sua mente vagar.

Crie o lugar, em sua mente, onde o encontro acontecerá com esse viking. Crie em sua mente, o avatar logo ao seu lado. Estabeleça uma conversa com ele e, essa conversa, pode ser realmente falada. Você se sentirá um pouco estranho na primeira vez, mas logo isso vai fazer parte do trabalho. Bebidas alcoólicas podem ajudar aqui, mas tome cuidado pois beber não é algo que posso te recomendar.

Aos poucos, mentalmente, estabeleça um elo energético com o avatar, como se algo saísse dele e viesse até você, e de você, fosse até ele. Uma espécie de tubo energético. Compartilhe a energia.

Neste momento você começará a sentir certas coisas em seu corpo, que poderão vir desde pequenos movimentos, a sensações de calor ou frio. Neste momento, você já está “incorporado”, por assim dizer.

Faça suas perguntas e deixe que sua mente responda a você. Não force movimentos, só se deixe levar e aproveite a invocação deste símbolo, deste avatar. Use a energia que chega a você e aproveite.

Depois disso tudo, só se desconecte e tenha certeza que o trabalho acabou.

Recomendo que você pegue um caderno ou coisa assim e anote tudo o que houve, para futuras consultas.

É isso.

Assim, sozinho, é o que posso te passar para você tentar fazer em casa. Agora tente e conte aqui nos comentários como foi.

Lembre-se que isso tem um potencial danado de te fazer achar coisas que não existem, criar coisas que não existem e te levar para um lugar que não é tão legal. Tenha ciência do que você está fazendo e duvide de tudo assim que o trabalho terminar. Anote no seu caderno para fins de consulta, mas não se deixe levar demais por si mesmo. Deixe a coisa toda como uma experiência a ser trabalhada, não como a coisa definitiva da sua vida.

Espero que você tenha uma ótima vida, seja uma pessoa melhor do que foi até agora e Tchau!

FONTES USADAS NO TEXTO:

Kurtz, Paul. Spiritualists, Mediums and Psychics: Some Evidence of Fraud. In Paul Kurtz (ed.). A Skeptic’s Handbook of Parapsychology. [S.l.]: Prometheus Books. pp. 177–223

Carpenter., William Benjamin (2011). Mrs. Culver’s Statement. In Mesmerism, Spiritualism, etc.: Historically and Scientifically Considered. [S.l.]: Cambridge University Press (originalmente publicado em 1877). p. 150–152

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *