Nino Denani

Quem me acompanha ha algum tempo tem notado as evoluções dos meus textos, principalmente ao longo deste ano de 2023. Essa é uma das coisas que se pode esperar de pesquisadores; conforme nós vamos descobrindo novas evidências, é natural que as coloquemos em nosso cabedal de conhecimento a fim de deixar a nossa compreensão das coisas, cada vez mais próxima da verdade do fato. Por conta disso, claro, precisamos nos manter em movimento, por assim dizer, dentro daquilo que nós temos como campo de pesquisa e, para quem não sabe, o meu campo atual de pesquisa é a mente humana e, por consequência, o cérebro e as suas potencialidades e formas que temos de interação com o que chamamos de extra mentis, ou seja, com tudo o que está do lado de fora da nossa mente.

Essa mudança, na verdade, começou no ano passado quando resolvi fazer uma pós graduação exatamente neste campo e agora com um novo estudo, a psicanálise, que vem me trazendo diversos insights que acho importante e que tem explicado muita coisa para mim. Por conta disso, os textos tem mudado e muito.

Hoje, então, vamos falar um pouco sobre algumas relações que tenho notado sobre meus dois campos de estudo preferidos atualmente: Cérebro e Hermetismo.

Meu nome é nino Denani, sou psicanalista, pós graduado em neuropsicologia, mago hermetista e quero te convidar a falar um pouco mais sobre as artes mágickas.

Eu já sou Mago ha muito tempo. Mais de uma década, quase duas, para falar a verdade e nesse meio tempo, muita coisa tem mudado e credito isso aos meus Mestres, claro. Tem muito de mim nessa vontade de mudar, mas é graças a essas pessoas que o caráter “perguntador”, por assim dizer, que eu tenho, se fortaleceu. Se a Magia não fosse apresentada da forma como foi, possivelmente eu não estaria aqui, teria achado tudo uma grande bobagem e seguido minha vida normalmente, como quase todo mundo faz. Felizmente, não foi assim que aconteceu e o Hermetismo me deu uma forma de enxergar as coisas que, de certa forma, é bem intrigante. Como está no texto “A Magia me fez cético”, a filosofia me deu perguntas e as respostas me deram o caminho.

Com o tempo, esse caminho me levou as neurociências e, ao me aprofundar no estudo, comecei a perceber que… uma coisa não é tão diferente da outra. Então vou trazer algumas similaridades que tenho encontrado e que tem me deixado maravilhado com o tempo.

RELAÇÕES

Antes de mais nada, quero deixar claro aqui para vocês que o que estou fazendo não é sugerir que os mestres hermetistas do passado sabiam alguma coisa de neurociências como sabemos hoje. Por exemplo: o fato da primeira lei hermética ser “o todo é mente e o universo é mental” vem, possivelmente, de uma observação empírica dos mestres, não necessariamente de um conhecimento real do que o cérebro e a mente podem fazer. Algumas dessas coisas se mostraram verdadeiras e começamos a estudar sobre isso, como é o meu caso com essa lei, mas não quer dizer que os antigos tinham o conhecimento que temos hoje da coisa, fechou? Dito isso:

O Hermetismo e a neurociência tem uma forma bem parecida de ver o mundo, no sentido de que ambos têm a ideia de que a mente humana é capaz de compreender e influenciar as leis naturais do universo. Lembra que eu sempre digo que Magia compreender as engrenagens do universo e trabalhar com elas a seu favor? Então… é sobre isso. De fato, a neurociência já vem estudando com muito interesse situações como a meditação e a visualização ativa e visto que essas coisas causam efeitos mensuráveis no cérebro e no sistema nervoso.

O hermetismo, assim como a neurociência, também busca compreender a natureza da consciência, ou da mente, e como ela se relaciona com o mundo físico; o hermetismo faz isso de forma filosófica, claro, a neurociência, faz isso de forma científica.

Vou dar um exemplo disso: uma das correntes filosóficas (que seria onde o hermetismo se baseia como experiência sugestiva para a ciência pesquisar), defende que a consciência é dividida em duas partes, por assim dizer: Consciência fenomenal e consciência de acesso. A consciência fenomenal é onde tem acesso a experiência propriamente dita, é aquela que vive o que vivemos, que acessa da realidade o que acessamos. A consciência de acesso, por outro lado, é onde processamos as coisas que a gente vivencia, ou seja, a consciência fenomenal vive o momento, enquanto a de acesso pega as informações dessa vivência e a transforma em informação. Notem que estou falando só da consciência, nem entrei em aspectos da inconsciência ainda.

Essa discussão do que é a mente e de como ela funciona nos dá ainda outra questão, que está relacionada a forma como ela é construída, e a isso temos também duas abordagens: a do modelo de bloco de construção ou a do campo unificado:

No modelo Bloco de construção, segundo nos conta Steven Pinker, nós não temos capacidade de ter consciência sobre algo em um primeiro contato, o máximo que podemos fazer é referenciá-la com algum outro registro próximo, o que faz com que a gente entenda uma coisa pela outra. É tipo quando você vê uma sombra passando e pensa que é uma pessoa: você não tem consciência do que a forma da sombra é, então a compara a uma figura humana e cria um vulto. Nesse modelo, nós construímos a nossa consciência como se fosse um jogo de montar.

Já no modelo unificado, defendido pelo filósofo John Searle, a consciência não é feita de diversas peças, mas sim de um único bloco subjetivo.

Complicado, não é? Agora talvez vocês entendam porque eu fico tão “bravo”, por assim dizer, quando alguém simplesmente diz que uma experiência é “inconsciente”; há tantos estados de consciência que, para quem não tem um estudo um pouco mais profundo, realmente fica difícil de compreender algo. Quer ver?

Você sabia que existem 3 grupos catalogados de consciência? E dentre esses três estados, existem oito subdivisões? E estou falando somente de consciência, nada de inconsciência por enquanto. Os três estados são:

Obnubilação, sopor e coma. As subdivisões são: Delirium, que é diferente de delírio; onirismo, amência, síndrome do cativeiro, estado crepuscular, dissociação da consciência ou de identidade, transe e estado hipnótico. 

E de novo, estou falando só de consciência, não entrei em inconsciência.

O hermetismo vai olhar para essas novas descobertas da neurociência e estabelecer as ligações com a parte metafísica, assim como fez no início quando juntava a filosofia grega, que era cética, aos processos de metafisicalidade egípcia. É mais ou menos o que faço hoje em dia quando olho para os processos de incorporação, por exemplo, e tento estabelecer os estados cerebrais para que isso aconteça. Naquela época, era o caminho de Poimandres, para chegar a Nous.

Antes de prosseguir, só preciso deixar uma coisa clara para vocês: O Hermetismo é uma filosofia, o que quer dizer que ele tenta ir além do que se sabe. Sim, o papel da filosofia é propor desafios para outras disciplinas conseguirem seguir a diante. Digamos que, sem a filosofia da ciência, a própria ciência não andaria além do que está e isso quer dizer também, que a própria filosofia se altera com o tempo. Um exemplo clássico disso é Platão, que evoluiu as ideias de Sócrates, e serviu de degrau para Aristóteles.

NEUROPLASTICIDADE

Neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar e se moldar a nível estrutural quando somos expostos a novas experiências. Isso quer dizer que a cada experiência nova que nos submetemos, o cérebro muda, não necessariamente de forma visível, no sentido de criar mais dobras ou coisa assim, mas sim na forma como as sinapses acontecem. Nós chamamos isso de remodelação de mapas neurosinápticos. 

É muito conhecido na neurociência, por exemplo, que uma das coisas que causam essa remodelação é o sonho; sabe aqueles sonhos que parecem absurdos que muitos de nós temos e ficamos tentando analisar, e fazemos isso ha tanto tempo que pessoas tentam explicar e criar relações disso com a realidade?

Pois é; ao que parece, esses sonhos absurdos são somente formas de nosso cérebro se preparar para… situações absurdas da vida, coisas inesperadas, e enquanto temos esses sonhos acontece exatamente a remodelação dos mapas neurosinápticos.

O hermetismo vai trabalhar com isso de uma forma que você nem imagina: através da meditação.

Pouca gente sabe, mas o hermetismo tem, como parte dos seus princípios doutrinários, a meditação como uma técnica para ascender a mente. Não é à toa que escolas iniciáticas levam a meditação muito a sério, incluindo o estudo da Yoga como prática meditativa em suas estruturas. Crowley, por exemplo, fazia muito isso.

No caso das neurociências, fazemos um processo de estudo bem aprofundado sobre isso, embora o estudo em si esteja, como é característica da ciência, em andamento. O mindfulness, por exemplo, é uma tentativa científica de criar um processo meditativo a partir da observação de estados de fervor religioso observado tanto em freiras, quanto em monges, e usar isso para a melhora dos processos neurais de cada um de nós. A gente ainda não pode bater um martelo muito certeiro sobre isso ainda, mas os estudos são animadores.

Tudo isso que falei até agora tem a ver unicamente com a primeira lei: O todo é mente o universo é mental, que imagino que seja a lei que mais fica clara a relação, mas… que tal a lei do gênero?

O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero se manifesta em todos os planos da criação.”

Essa lei vai nos dizer que todos nós temos momentos de atividade e passividade, momento de fazermos e de repousarmos. Masculino e feminino tem esse significado dentro das tradições místicas e a neurociência vem nos trazer algumas coisas sobre isso como, por exemplo, os estudos mais recentes a respeito da Síndrome de Burnout.

O Burnout começou a se manifestar como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade, mas nos dias de hoje, já é tratado além dos muros da empresa. O Burnout é exatamente o que acontece quando a lei do gênero não é respeitada e estamos em constante atividade, sem nos lembrarmos da passividade de vez em quando. Geralmente eu digo que o Mago é ativo até quando passivo, mas isso não tira dos nossos ombros a obrigatoriedade da passividade de vez em quando. Trocando em miúdos, nós temos que aprender a ficar ociosos de vez em quando, não só no trabalho, mas na vida. Assim como o Hermetismo nesses casos, a neurociencia vem buscar formas do ser humano ter melhores condições de vida, de certa forma, melhorando os processos de cada um de nós. Estudar sobre a questão do burnout colocando a lei do gênero no meio, nos mostra o quão a balança da vida é necessária e o porque estamos tão esgotados o tempo todo. Aliás, esse esgotamento mostra que estamos esquecendo também de outra lei, aquela que costumo chamar de “lei do pêndulo”, que tem tudo a ver com os ciclos que não respeitamos em nós mesmos e, por conta disso, nos sobrecarregamos.

E O QUE FAZER COM TUDO ISSO?

Na realidade, tanto o hermetismo como as neurociências tratam de uma única coisa: o ser humano. Claro que você vai poder dizer que qualquer área das ciências tratam, de alguma forma, o ser humano e eu vou dizer que você está certo, que fizemos só um recorte nessa cadeira ampla das ciências para contar a você o porquê de eu ter me apaixonado tanto por esta disciplina em particular e para dizer a você, de alguma forma, o que venho dizendo ha tempos: Magia é conhecimento e é o conhecimento que muda a vida. Deixar o conhecimento de lado só porque é uma ciência e ciência é complicada, é não entender o processo que nos trouxe onde estamos e negar a possibilidade de irmos além.

Mas aí você pode me perguntar: Então você está dizendo que Magia é Ciência? E eu vou dizer que não, mas ao mesmo tempo, que sim. O problema desta interpretação é que você está olhando para as coisas de uma forma muito restrita, da mesma forma que quem critica os programas espaciais dizendo que “tem muita gente passando fome na Terra para a gente pensar em ir ao espaço”, fazem isso através de um celular, que só é possível que exista, por conta dos satélites que os programas espaciais lançaram ou que come a comida que foi produzida por conta dos programas espaciais. 

Magia é conhecimento, mas a ciência é só uma das formas de produzi-lo. Há diversas outras e você faz uso disso o tempo todo, sem perceber. O grande problema, talvez, esteja na vontade e eu vou te dizer uma coisa: Você sempre terá uma escolha a fazer em sua vida, que diz respeito ao caminho que você quer trilhar. Quem você quer ser? Uma pessoa qualquer, ou A pessoa? 

A maioria de nós escolhe ser uma pessoa qualquer e, com isso, vai pelo caminho mais fácil do achismo e do é minha opinião. Uma minoria escolhe ir pelo caminho mais difícil da busca pela verdade, do teste, da comparação e da mudança de acordo com novos fatos. Não há escolha certa, há a escolha que mais cabe a você.

Eu escolhi o caminho da busca pela verdade e por isso você me vê mudando o tempo todo.

Você pode ir por esse caminho também e, talvez, eu possa te ajudar de alguma forma como por exemplo, te oferecendo o Teoria da Magia, que é, atualmente, o maior curso de Magia do Brasil, com dezenas de horas de conteúdo audiovisual, além de indicação de livros, textos, vídeos anexados e professores especializados em sistemas mágickos para te oferecer exatamente isso: conhecimento. Acessa aqui teoriadamagia.com.br e venha fazer parte desta comunidade de alunos que não para de crescer.

Se você não quiser o Teoria da Magia, não precisa; volte para a escola. Sim… escola. Magia é conhecimento, você precisa de conhecimento para “achar coisas” de uma forma um pouco melhor, mais precisa e mais coesa. Como disse no início do vídeo, muita gente fala muita coisa sobre consciência, inconsciência, mas a maioria das pessoas que fazem isso não fazem ideia do que a consciência é e isso faz, na grande maioria das vezes, essas mesmas pessoas compreenderem que um fenômeno simples de viés cognitivo seja um demônio. Um pequeno trauma de infância se torne em um espírito ou um simples vulto, por conta da pareidolia, se torne um fantasma. Pessoas vivem a vida com medo dessas pequenas coisas por simples ignorância, gastando dinheiro para ter “segurança espiritual” quando, na verdade, o caminho para isso é muito mais simples. Eu não gostaria que você, que aqui está, fosse uma dessas pessoas. De verdade.

Como sempre, as fontes utilizadas neste vídeo estão no campo de descrição.

Espero que você tenha uma ótima vida, que seja uma pessoa melhor do que foi até agora. Tchau.

REFERÊNCIAS

THORWALD, Jürgen. O segredos dos médicos antigos. SP, Melhoramentos, 1990

BLOCK, Peter. Comportamento Organizacional. 2004

Gray J.A.. The neuropsychology of the emotions and personality structure. Zh Vyssh Nerv Deiat Im I P Pavlova. 1987 Nov-Dec;37(6):1011-24. PMID: 3329434

COSENZA, R. M.; FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. F. A evolução das ideias sobre a relação entre cérebro, comportamento e cognição. In: FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P.;

Ferrer Ventosa, Roger (2019). «La filosofía de Hermes. Investigación sobre el estudio del hermetismo como fenómeno histórico y su estado actual». Comprendre. Revista Catalana de Filosofía. Consultado el 27 de marzo de 2020.

Síndrome do Burnout: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout#:~:text=S%C3%ADndrome%20de%20Burnout%20ou%20S%C3%ADndrome,justamente%20o%20excesso%20de%20trabalho.

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