Nino Denani

“Percebo que quanto mais rostos um indivíduo convive em sua vida, menos decoram as faces recentes, decorando-as apenas quando as veem repetitivamente. É como se nosso cérebro fosse seletivo e o armazenamento limitado, apagando assim o que já sabe que é constante, repetitivo e sem aproveitamento. É como se a rede social injetasse tantas informações na nossa mente que fizesse essa parte seletiva agir não só no mundo real como também no virtual. As informações vem tão ‘mastigadas’ que o cérebro se adapta a não precisar lembrar, a ter de armazenar, tendo assim um sistema de busca externo. Minha hipótese é que seremos menos inteligentes no futuro, ou talvez apenas teremos um tipo de inteligência diferente que ainda não conseguimos entender. O Google mastiga a informação e nosso cérebro entende essa praticidade, logo pode ser que nossa inteligência será diferente da atual, compartilhada com as máquinas”. 

Essa afirmação é do filósofo Fabiano de Abreu, feita a revista L’officiel para um artigo chamado “Mente online: como a internet pode afetar o cérebro humano”. Já tem algum tempo que algumas cadeiras de conhecimento humano tem se debruçado sobre o fator internet e tentado ver como isso vai afetar nossas mentes e, por consequência, nossos cérebros.

E como O todo é mente e o universo é mental, isso tem tudo a ver com Magia.

Seja bem vindo, meu nome é Nino Denani, sou psicanalista, pós graduado em neuropsicologia, mestre hermetista e quero convidar você a conversar um pouco sobre as Artes Mágickas.

———

“A circuitaria neuronal mudou. Hoje as crianças são emocionalmente imaturas e por isso sofrem mais. Também está claro que, quanto mais tempo passamos online, mais alterações a nossa função cognitiva sofre”,

afirma a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner que, em outras palavras, quer dizer que a forma como encaramos a realidade está mudando por conta da forma como encaramos a irrealidade da internet. O excesso de informações já é um problema antigo no meio da neurociência, embora ainda andemos de certa forma, teteando o escuro quando falamos de como isso realmente vai nos afetar no futuro e se isso é benéfico ou não. 

O fato é que o que está acontecendo conosco é uma espécie contraditória de mudança no cérebro. Estamos ficando mais inteligentes, mas também estamos ficando mentalmente mais preguiçosos.

“Quando fazemos muitas coisas ao mesmo tempo, nosso cérebro trava, como uma máquina com pouca capacidade de processamento. Vivemos mais tempo mas aproveitamos menos a vida real”

é o que diz Fabiano Abreu.

Bom, antes de ir para frente neste texto, talvez eu necessite de algumas contextualizações:

CÉREBRO

Nós somos dotados de um comportamento cerebral conhecido por todos como “memória”. A Memória é o lugar onde “armazenamos”, grosseiramente falando, os dados de nossas vidas, o que fazemos e deixamos de fazer. Só que há um problema aqui: nosso cérebro não é infinito, como costumam dizer aquelas pessoas que não sabem sobre o cérebro e afirmam que só usamos 10% da capacidade neural. Quando nosso HD neural está cheio, o cérebro faz exatamente o que nós fazemos quando nosso computador está sem espaço e não temos como comprar um HD externo: ele apaga coisas.

É, pois é… nossa memória foi feita, na verdade, não para guardar coisas, mas para apagar elas. O lugar responsável em nosso cérebro por fazer isso é uma pequena estrutura localizada nos lobos temporais, perto das amígdalas cerebrais chamado Hipocampo que é, aliás, uma parte importante do sistema límbico, que é aquele responsável por mediar emoções e motivações. O hipocampo está envolvido na formação de novas memórias, aprendizado e emoções, só que ele é limitado e se você ver uma foto do hipocampo, vai ver que ele é bem pequeno para o tanto de memórias que nós armazenamos e sim; tal qual acontece no seu computador, a área conta com um número limitado de neuronios e isso quer dizer que temos uma capacidade limitada de memóras. Quando “enchemos o nosso HD”, ou nosso hipocampo, ele meio que manipula os dados e informações que acessamos usando uma coisa fenomenal e que nos ajudou, ao longo do nosso processo de evolução biológica, a chegarmos onde chegamos: a criatividade.

Aqui entram as coisas que chamamos de “falsas memórias”, pois enquanto o HD tem uma quantidade limitada de armazenamento, nós usamos a criatividade para criar novas configurações, ou seja, criamos novos arranjos com informações velhas, articulamos o pensamento de forma a multiplicar o saber o que eleva exponencialmente nossa cognição. A memória foi feita para esquecer porque nós não temos condição de guardar todos os dados aos quais somos expostos, ou seja, temos uma memória que é seletiva, que deixa guardada o que de fato é importante no que chamamos de “memória de longo prazo”.

A questão chave para este capítulo foi dada aqui: “não temos condição de guardar todos os dados aos quais somos expostos” e nós nunca fomos tão expostos a dados como somos hoje pela internet, o que faz com que deixemos de fora, muito mais coisas hoje em dia. E é um processo autoalimentado: Quanto mais informações temos, mais esquecemos e quanto mais esquecemos, mais precisamos da internet.

Agora… não sei se você notou, mas isso tudo é muito diferente do que tudo o que nós já vimos antes e, como seres em constante evolução, como qualquer outro ser vivo na Terra, isso está, também, mudando o nosso cérebro. Não sabemos se isso é bom ou ruim, mas é o que de fato está acontecendo. Entre as coisas que são apontadas é que pessoas que navegam muito na internet, entram em um ambiente que promove leitura superficial, raciocínio apressado (que é diferente de raciocínio rápido) e distraído e aprendizado superficial, ou seja, apesar (ou por causa do) grande volume de informação, o pensamento está cada vez mais raso, o que pode mudar a estrutura do cérebro.

Antes de terminar esse capítulo, só queria deixar uma coisa clara: Muito conhecimento é bom e depende de muita informação. A uma primeira vista, parece que estou falando o contrário neste capítulo, mas não é bem assim: ter muita informação diferente não é a mesma coisa que ter muita informação importante. Construir conhecimento depende de informação, mas o que estamos fazendo é absorvendo um número gigante de informações diferentes em um curto espaço de tempo. Esse assunto por si daria um vídeo inteiro, então, se você quiser mais sobre esse tema, sobre qualidade de informação, deixa comentado aqui embaixo.

IMPACTOS NO PSIQUISMO

Enquanto estava escrevendo esse texto, resolvi conversar com uma amiga psicóloga sobre o assunto. Perguntei a ela se ela via algum tipo de relação entre o uso da internet com possíveis transtornos emocionais e a resposta dela só corroborou com o que imaginava: Baixa auto estima, o problema da comparação da vida real com a vida fake nas redes sociais e o fracasso que eles sentem sobre eles mesmos além da perda considerável na habilidade de comunicação e desenvolvimento de relacionamentos a longo prazo. Eu sei que você pode não fazer uma correlação imediata entre esses fatores e a educação, mas eu posso te garantir que ela existe: pessoas que precisam se preocupar com essas questões todas, em geral, não tem tempo para outras coisas da vida, porque elas estão perseguindo um ideal que é falso e, muitas vezes, não correspondem a sua própria realidade. É como se você estivesse correndo atrás do próprio rabo sem saber que essa corrida nem é o que você quer fazer de verdade.

Esse processo todo acaba por estressar nosso cérebro que nos obriga, de alguma forma, a criar um descanso, o que fazemos, adivinhem?

Procrastinando. Procrastinar nada mais é que a fuga do tedioso, do chato, buscando uma recompensa imediata o que vai, também, dar um outro problema que está na moda hoje em dia: o vício dopaminérgico.

Cara… quanta situação ruim nós temos, não é mesmo?  

É… eu acho. Essa situação da busca pela dopamina, que é conhecido como o neurotransmissor da felicidade, nos faz ter também algumas posturas meio chochas, como a busca pelo “vencer a discussão” que vemos na internet. Agora… que tipo de conversa temos quando estamos online? 

Lembra de tudo o que falamos até aqui? 

  • crianças são emocionalmente imaturas;
  • Vivemos mais tempo, mas aproveitamos menos a vida real;
  • As informações vem tão ‘mastigadas’ que o cérebro se adapta a não precisar lembrar;
  • Adaptamos as informações a nossa realidade;
  • Não nos importamos com a verdade, porque acreditamos no que queremos.

É… pois é. Eu tenho falado sobre esse tipo de coisa aqui já ha algum tempo, de forma um tanto velada nos vídeos, mas que você pode ter percebido. Como falar a um povo que, além dessa fixação pela internet, ainda conta com o sucateamento da educação formal, da cultura da ignorância, onde somos orgulhosos de sermos ignorantes sobre os principais assuntos que tomamos, e a burrice clássica, que faz com que nós tenhamos a interpretação de nosso conhecimento sobre algo deturpado pelo desconhecimento do mesmo algo?

Bom… eu não sei. A única coisa que posso fazer é lançar iniciativas como tenho feito, como o Hermetismo on the Road que leva o conhecimento mágicko para várias cidades do Brasil e o Teoria da Magia, que é exatamente a tentativa de todas as pessoas de conhecimento para que a vida seja muito mais do que ela é. Só que aqui, também, precisamos lutar contra o imediatismo, pois não dá para correr antes de aprender a andar, e iniciativas como o Teoria da Magia, por exemplo, levam tempo, porque concatenam uma série de conhecimentos para fazer você engatinhar, andar para, só então, aprender a correr, quando o assunto é cuidar da sua própria vida.

Querem um conselho meu?

COMO SAIR DISSO?

Meu conselho para você é fazer como eu faço quando o assunto é internet. Claro, eu sou da velha guarda, quando nasci nem existiam computadores e o que vemos hoje era tema de ficção científica, então para mim é mais fácil sair deste controle que você, que já é da iGeneration, mas… vale a tentativa.

Que tal se você tentar sair da subjetividade e encarar o mundo lá fora? Sim… encarar! Vai ser difícil no início, eu confesso… você vai ter que olhar para pessoas, conversar, ouvir, sentir, se frustrar, fracassar de vez em quando, sair vitorioso as vezes, mas na soma geral dos fatos, te garanto que vale a pena. Busque coisas que você goste de fazer e tente fazer fora da internet. Você que está aqui possivelmente gosta de Magia, então que tal buscar um dos templos da OGOM pra conhecer pessoas? Fazer a coisa ao vivo, ali, sentindo o cheiro das velas, o calor do rito? Eu também faço diversas iniciativas em vários lugares do Brasil, então porque não chegar junto com a gente?

Mas não precisa ser só isso, você pode, por exemplo, estipular um tempo diário pro uso da internet, de smartphones… que tal uma hora? Se você fizer uma hora de uso, aposto que até seus problemas para dormir vão melhorar, sua ansiedade, sua timidez, introspecção, depressão… e uma série de outras coisas vão melhorar bastante, muitas vezes, só pelo fato de você tomar sol. 

O cérebro precisa de estímulos para funcionar, mas como qualquer máquina, usá-lo em capacidade máxima por muito tempo, pode fazê-lo quebrar.

Espero que você tenha uma ótima vida, seja alguém melhor do que foi até agora. Tchau.

REDAÇAO, Mente online: como a internet pode afetar o cérebro humano.

https://www.revistalofficiel.com.br/wellness/mente-online-como-a-internet-pode-afetar-o-cerebro-humano

Bernardo Staut, A internet nos torna mais inteligentes ou mais burros?

Michel Maffesoli, A educação na era da Internet

https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8665214

Web 3.0: a nova era da internet e seus impactos na Educação
https://isaac.com.br/blog/web-impacto-da-internet-na-educacao

Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira; Claisy Maria Marinho-Araújo. Psicologia escolar: cenários atuais

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812009000300007

Ruam Oliveira. Pesquisas sobre o cenário educacional mostram 2021 ainda difícil e repetem alertas

Thais Carrança. Crise de saúde mental nas escolas: ‘Alunos estão deprimidos, ansiosos, em luto e faltam psicólogos’

https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/08/5031907-crise-de-saude-mental-nas-escolas-alunos-estao-deprimidos-ansiosos-em-luto-e-faltam-psicologos.html

A Formação da Memória. 

Dopamina: o que é, para que serve e como aumentar

https://essentia.com.br/conteudos/dopamina/#:~:text=e%20formula%C3%A7%C3%B5es%20manipuladas.-,O%20que%20%C3%A9%20dopamina%3F,satisfa%C3%A7%C3%A3o%20e%20aumenta%20a%20motiva%C3%A7%C3%A3o.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *