Nino Denani

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Há tempos eu venho dizendo em todas as iniciativas que faço sobre educação mágicka que Magia é conhecimento e é o conhecimento que tem a capacidade de mudar a vida. Quando eu entrei para este mundo, foi assim que me apresentaram as coisas, me levaram a estudar, a pesquisar e a praticar e eu achei que tudo isso fez muito sentido. 

Eu sempre tive esse caráter inquiridor, perguntador, sempre fui uma pessoa que gostava de olhar o mundo e tentar compreendê-lo da melhor forma possível e foi exatamente essa característica que me afastou da primeira religião que me foi apresentada: o cristianismo.

Minha mãe era cristã, ela veio do interior e trouxe com ela toda a questão das pessoas mais antigas da cidade de piquete, no estado de São Paulo. Perdi as contas de quantas vezes fomos na Basílica de aparecida, por exemplo, seja pra pagar uma promessa que alguém tinha feito ou só pra visitar mesmo. Minha mãe era tão cristã que me fez comprar uma imagem de Aparecida com meu primeiro salário da vida, pra pagar uma promessa dela. Fiz primeira comunhão, crisma… e aí, quando comecei a dar meus primeiros passos no mundo adulto, parei com essa bobagem toda. As coisas simplesmente não faziam sentido e eu achava meio besta a ideia de que alguém que criou o universo e fez uma porrada de atrocidades, cuidava de mim também. 

É, pois é. Nessa época eu já tinha essa necessidade de racionalização que eu trago até os dias de hoje e hoje talvez você se pergunte COMO alguém que sempre procura explicações racionais para tudo, pode ter se tornado Mago. Eu vou te contar um segredo: Na verdade, é exatamente a Magia que faz com que eu me torne cada vez mais cético. Hoje, diferentemetne dos outros vídeos, vou fazer uma coisa um pouco mais catártica com vocês.

No dicionário o termo Magia está explicado como

Ciência, arte ou prática baseada na crença de que é possível, por intervenção de entes sobrenaturais e fantásticos, produzir efeitos inexplicáveis, especiais, irracionais e sobrenaturais, através de fórmulas mágicas e rituais ocultos.”

Embora hoje eu não acredite mais nisso, o meu início na Magia aconteceu exatamente desta forma: Quando larguei o cristianismo, passei a fazer parte de um terreiro de umbanda onde fiz minhas obrigações e trabalhei por um tempo, antes de abrir meu próprio terreiro. Sim, eu era médium de incorporação, trabalhava com toda aquela sorte de entidades que vocês já ouviram por aí: exus, caboclos, crianças, pretos velhos e tudo o mais. Claro, entretanto, que eu não deixei de lado meu caráter cético durante esse tempo todo, só que certas coisas aconteciam que me faziam realmente acreditar em tudo aquilo. Eu realmente sentia, quando no terreiro, toda aquela sensação que todos os umbandistas sentem; os arrepios, aromas, a mente turvando, o impulso de incorporação. Nesta época, mais ou menos, eu comecei a ter meus primeiros problemas na internet.

Sim, problemas… porque eu estava em uma religião, trabalhando com ela, mas eu ainda me perguntava coisas. Nesta época, a encrenca que mais me marcou foi quando escrevi um texto onde eu questionava o motivo pelo qual algumas linhas de umbanda não podiam conter espíritos femininos. Pra ser mais claro, por que não poderiam existir marinheiras, boiadeiras, malandras?

Hoje eu to por fora, não sei se isso ainda tá assim, mas na época, minha pergunta causou comoção. Textos foram publicados, vídeos foram gravados, indiretas foram dadas porque era um absurdo eu perguntar esse tipo de coisa, afinal, “naquela época”, não existiam boiadeiras e marinheiras. Mas… que época? Porque sim, em todas as épocas tiveram marinheiras e boiadeiras, em menor número, mas elas existiram. Ademais, os espíritos meio que não podem ser o que quiser? Então porque não podem ser isso também?

Eu não me lembro se tive alguma grande questão antes dessa, mas aí minha posição de inquiridor começou a crescer, dado que meus textos começaram a ficar mais populares e isso, principalmente, porque várias pessoas a redor do Brasil começaram a comentar nos textos que eles mesmos sofriam preconceitos por incorporarem guias femininas em linhas que eram exclusivas masculinas. É aquela coisa, né? Religião não se discute, é a fé de cada um e a fé não tem lógica. Mas caracas… e aquelas pessoas que estavam trabalhando ali? Num outro terreiro que frequentei durante quase 5 anos, existiam boiadeiras incorporadas por médiuns com mais de 30 anos de trabalho. Eu via a coisa acontecendo, as pessoas ficavam felizes, tinham seu auxílio… como eu poderia invalidar esse trabalho só porque alguém acredita que a religião tem que ser de outra forma?

Nesse momento fui apresentado a algumas pessoas que começaram a abrir meus olhos para outras coisas e, nesse momento, comecei a ver que não é que a religião não pode ser discutida… é que se a religião for discutida, ela para de existir. Nesse momento eu compreendi que para você aprender sobre uma religião, não adianta você só ler a respeito; você precisa praticar a religião e dar e ela o seu combustível: a fé. “Para aprender a religião você precisa compartilhar do paradigma dela”, me disseram, “e para compartilhar o paradigma, você deve deixar suas perguntas pra outra hora”.

Ao mesmo tempo que causava polêmica fazendo perguntas que ninguém queria responder, algumas escolas começaram a tentar entrar nesse papel e me ofereceram respostas. Mas as respostas geralmente não eram lá muito diferentes do que a própria religião me dava. “De onde vem isso?” Era sempre a pergunta que irritava, que geralmente era respondida com “um médium x muito poderoso falou”. Cara, como eu fiquei irritado com isso, porque dado que um médium falou, quem disse que ele não pode ter inventado? Eu já incorporava nessa época e sabia que a incorporação nunca foi absoluta e que quem geralmente fala que tem uma incorporação inconsciente, raramente sabe o que é inconsciência. 

E A MAGIA?

Pois bem, nessa época eu comecei a conversar com muita gente dos mais diferentes locais do mundo. Isso foi um problema porque eu tinha material para comparar e via que a umbanda de um lugar era diferente da umbanda de outro, mas ambas funcionavam, os médiuns incorporavam, trabalhavam… o que estava acontecendo ali?

Uma dessas pessoas com quem eu conversava, me chamou pela primeira vez pra conhecer o hermetismo. O caráter inquiridor foi o diferencial; eu fazia perguntas e, segundo ele, era exatamente isso que eles buscavam nas pessoas. Lembro que ele disse algo como “a gente não tem as respostas que você procura, mas quando você busca com mais pessoas, fica mais fácil encontrar“. Isso me marcou na época; alguém finalmente, nesse mundo, não tem respostas prontas pra qualquer coisa, pelo menos. Enquanto os religiosos me ofereciam respostas vindas de lugar nenhum e que não explicavam nada, esse camarada só falou “não sei, vamos pesquisar”. Isso mudou minha perspectiva dali pra diante e eu passei a ficar ainda mais chato e buscar as respostas para as perguntas que eu fazia em outros lugares. Ainda estava na umbanda, mas passei a ler sobre coisas fora da umbanda para ver se encontrava as explicações. Foi ai que aprendi sobre as energias na perspectiva dos hindus, dos chineses e até dos gregos. Conheci o spiricon e as tentativas de contato científico com os espíritos e vi o quanto todos eles fracassaram. Até o famoso Chico Xavier teve seus episódios de falsidade, como no caso de Otília Diogo. Nessa época também comecei a me aventurar pelos sistemas mágickos: Oráculos como o Tarot e algumas formas de scrying, sistemas cerimoniais como a goétia, a própria umbanda, magia planetária, tudo isso porque queriam me ensinar uma coisa importante: A busca pelo fio-guia, aquela explicação que vai explicar as explicações. Por que uma coisa que promete algo é diferente de outra coisa que promete o mesmo algo, mas ambas entregam o algo? O que está por trás disso? Por que um terreiro funciona de jeito X e o guia incorpora, e outro faz algo completamente diferente, mas também há a incorporação e, o pior, cada dirigente defende que seu modo é correto, mas experimentalmente falando, outras formas também funcionam, então o que está funcionando de verdade? 

Enquanto estava no terreiro aprendendo a liderar, a tratar com as entidades e tudo o mais, também estava aprendendo goétia, evocações angelicais e invocações planetárias. O que tudo isso tinha em comum?

Aqui, comecei o meu processo de ateísmo. Você notou que até agora não usei deus para falar sobre nada? Então… aparentemente nada do que a gente fazia precisava a dessa figura, a não ser uma pretensa “ordenação” do universo que, convenhamos… nada nos faz crer que é ordenado mesmo. Na verdade, dependendo do ângulo que você olhar, vai perceber que o que não temos no universo é ordem. A gente tenta, na humanidade, mas quanto mais tentamos, parece que mais construímos caos, que vem da entropia. E como tudo que tá no macro, está no micro, a ordem que o homem procura não existe, tal qual a figura que regularia isso também não. Enfim… a conversa pra isso seria muito mais extensa, quem sabe um dia falamos disso… se você colocar nos comentários aqui que quer um vídeo sobre meu processo de ateísmo, eu posso pensar a respeito.

O que mais fez sentido para mim nessa época foi o primeiro axioma, na verdade. O todo é mente, o universo é mental. Mesmo o hermetismo, filosofia a qual estava me apaixonando, não defendia a existência necessariamente de um deus. Hermes conversa, de forma alegórica como era típico naquele período histórico, com Poimandres, que é literalmente o conhecimento, para encontrar Nous, que é literalmente a razão. Então… se o universo é mental, se o todo é mente… então, talvez esse seja o caminho para compreender esse fio guia que liga todos os aspectos de invocação e evocação que eu encontrei. 

A mente.

Meus primeiros passos nesse caminho começaram já com o terreiro aberto e, não vou mentir: quando isso aconteceu eu já não tinha a figura de deus na minha mente, mas como me aconselharam os mestres, seguia com o paradigma. Muita coisa mudou ai, conheci mais um monte de gente nova, aceitei o convite para a maçonaria esperando encontrar mais conexões onde pudesse ter mais acessos e, pra falar a verdade, eu consegui isso.

Cada novo passo que dava, mais eu aprendia. Comecei a questionar a forma do passe mediúnico, o que acontecia realmente quando um médium estava incorporado e fazia aqueles movimentos todos na frente de alguém com um tipo de problema. Novamente, muitas explicações vieram, nenhuma delas fazia necessariamente sentido, mas via que algo realmente acontecia. Desta vez, era experimental, eu estava fazendo aquilo, eu via aquilo funcionar, mas eu não sabia o que era.

Neste tempo entrei em contato com estudos como o de Ricardo Monezi que vinha discutindo a eficácia de terapias de imposição de mãos como o Reiki e foi aqui que comecei a estudar essas coisas mais orientais. Incrivelmente, meus estudos refletiam na umbanda, a cada novo passo que dava para dentro do mundo mágicko, mais os guias se manifestaram de formas diferentes. Com o tempo, as bebidas alcoólicas, tradicionais nesse tipo de trabalho, deixaram de ser usadas, os ebós começaram a ser contestados e obrigações e tudo o mais, passaram a ser feitas de forma mais contemplativa do que realmente participativa. Eu tava lá, mas não necessariamente fazia a mesma coisa. Comecei a escapar do paradigma simplesmente porque as coisas pararam de fazer sentido.

Nesse paralelo, o trabalho mágicko começou a se intensificar e o estudo que me fez ter contato com um monte de sistemas logo no começo entrou em outro nível. Agora a pergunta principal era: você já experimentou tudo isso, já fez tudo o que todo mundo chama de Magia por aí, então, novas perguntas começaram a ser feitas e essas perguntas permeiam meu trabalho até hoje: 

O que funciona?

Como funciona?

Por que funciona?

DÚVIDAS E MAIS DÚVIDAS

Foi mais ou menos por aí que aconteceu uma grande reviravolta em minha vida e eu decidi deixar tudo de lado. Os ensinamentos que recebi de várias pessoas ao longo do templo, me levaram para a situação de escolha, em vez do velho desespero que nos toma conta quando tudo da errado e, aqui, a escolha que fiz foi me solidificar como Mago. Eu já tinha o grau que tenho hoje, a OGOM já existia, mas eu ainda era um “Mago nas horas vagas”, por assim dizer. Neste momento, decidi ser Mago tempo integral e isso fez com que eu passasse a debruçar sobre o conteúdo e, mais que isso, sobre as possibilidades de fazer com que a Magia fosse usada por outras pessoas. Os atendimentos mágickos que faço até hoje foram criados e, com isso, um novo universo passou a existir, principalmente porque os atendimentos me fornecem um laboratório infinito de experiências práticas, onde eu poderia até mesmo medir os resultados; compreendendo onde falhei e onde acertei para tornar o trabalho melhor e, mais que isso, responder às perguntas básicas que me foram feitas.

Então… no final das contas, o que estava funcionando?

Neste momento comecei a me debruçar sobre os axiomas herméticos até por conta dos vídeos do canal e o primeiro sempre me chamou a atenção: Se o todo é mente e o universo é mental, então efetivamente o que nos importa é o caminho da mente e como ela processa o que vivemos. Por conta disso, comecei a estudar psicologia, de uma forma bem profana mesmo; comprando livros, vendo vídeos, etc. Eu sabia que não era a melhor coisa a se fazer, mas era alguma coisa.

Esse foi mais um grande momento de virada na minha vida; os atendimentos já aconteciam, passei a testar os ritos coletivos e eles também davam resultado. A psicologia me explicava alguma coisa, mas eu precisava ir além; por que, de fato, a coisa funciona?

Buscando, então, uma faculdade de psicologia para eu completar o treinamento, por assim dizer, entrei em contato com a neurospicologia e me inscrevi na pós graduação. E aqui, meus amigos… tudo mudou.

A pós graduação me deu ferramentas para conhecer não só a mente, através da psicologia, como também o cérebro e várias questões começaram a ser respondidas. Nesta época, eu ainda acreditava em espíritos e incorporações, dado que algumas das coisas que eu tinha feito em terreiro, ainda não encontravam explicações. Eu ainda acreditava em espíritos e deixava claro nos vídeos que isso acontecia só porque eu não conseguia explicar algumas coisas, mas na pós graduação… tudo ficou claro e a minha mente explodiu. Aquilo que faltava explicar… encontrou expliação e eu fiquei tranquilo de poder dizer que o que eu fazia no terreiro, acreditando ser induzido, aconselhado ou controlado por um espírito… passou a ser só um mecanismo mental muito simples e que acontece em vários momentos da vida, de formas muito semelhantes até. E sabe o que foi mais divertido?

Eu descobri que o que acontece em terreiro realmente é meio coisa da nossa cabeça, mas… independentemente de ser ou não coisa da nossa cabeça, aquilo tem valor terapêutico e realmente provoca mudanças na vida das pessoas que participam daquilo. Isso fez com que eu desenvolvesse sistemas mágickos melhores e mais amplos, que acabam por ser mais efetivos e, principalmente, me levaram a compreender o porque realmente tanta gente acredita em coisas espirituais, metafísicas e, para elas, isso parece fazer todo o sentido.

Cada vez mais a Magia passou a ser conhecimento e cada vez mais o conhecimento passou a ser o agente de mudança da vida; não só da minha, como das pessoas que me cercam e que vem, de alguma forma, pedir auxílio. Neste momento também aprendi uma coisa valiosíssima: o conhecimento liberta. Por isso costumo dizer que tenho a pior campanha de marketing de todos os tempos: Porque como eu sugiro o conhecimento e o conhecimento liberta, um tratamento comigo não tem o poder de fidelizar alguém. Eu não prego que você tem que virar Mago pra sua vida ir pra frente, que se você não se tornar Mago sua vida vai por água abaixo ou que você tem que se tornar Mago porque você foi um em alguma linha do passado. Magia não fideliza cliente, porque a gente trabalha com o empoderamento individual. Não existe a coisa do “me paga um tratamento, eu vou fazer alguma coisa, e você precisará repetir isso mais tarde”. Em geral, o atendimento começa com o empoderamento do solicitante, para que ele faça por si. Damos um “empurrãozinho mágicko” no início, para que o solicitante consiga começar, mas daí em diante, ele terá o conhecimento para ir sem depender de ninguém.

Isso tudo me faz responder hoje em dia, quando alguém me pergunta se Magia não é “acerditar  que é possível, por intervenção de entes sobrenaturais e fantásticos, produzir efeitos inexplicáveis, especiais, irracionais e sobrenaturais, através de fórmulas mágicas e rituais ocultos”:

Já foi assim quando a gente não tinha instrumentos para saber que não deveria ser. A Magia evolui, porque ela é um estudo do ser humano. Os grandes Magos da história sempre foram estudiosos, sempre foram pessoas que olhavam para a vida, e traçavam teorias. E as colocavam em prática. E alteravam seus paradigmas conforme aprendiam coisas novas.

Isso é Magia. Magia é conhecimento e conhecimento muda a vida.

Espero que você seja alguém melhor do que foi até agora, que tenha uma ótima vida. tchau.

BIBLIOGRAFIA

MICHAELIS: Magia. https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/magia

OLIVEIRA, Ricardo Monezi Juliao de. Efeitos da prática do Reiki sobre aspectos psicofisiológicos e de qualidade de vida de idosos com sintomas de estresse: estudo placebo e randomizado. https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/22764

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