Nino Denani

Qualidade de informação, funcionamento do cérebro e Magia Hermetista

Semanas atrás fiz um texto aqui sobre o efeito da internet em nossa capacidade de aprendizado e, naquele vídeo, comentei algo sobre a qualidade das informações com as quais entramos em contato. Para você ter um contexto; um dos grandes problemas que enfrentamos hoje em dia é o excesso de informações ao qual nós estamos sujeitos o tempo todo, isso tem deixado nosso pensamento mais raso e nosso conhecimento sobre assuntos importantes, mais superficial. Só que, ao mesmo tempo, nós precisamos de muita informação para termos conhecimento. Então o grande mistério está em descobrir o que fazer, já que precisamos de muita informação para aprender, mas ao mesmo tempo, muita informação tem nos deixado mais… burros.

O que fazer nesse caso?

É por esse caminho que iremos adentrar ao longo desta nossa conversa de hoje, então; seja muito bem vindo, meu nome é Nino Denani, sou psicanalistas, pós graduado em neuropsicologia, mago hermetista e quero te convidar a falar um pouco mais sobre as artes mágickas.

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Área temporal, frontal, occipital e parietal. Essas são basicamente as quatro áreas de nosso cérebro que, de alguma forma, estão relacionadas ao aprendizado. Sim, precisamos de tudo isso para conseguirmos aprender o que faz de nós, nós.

Mas… você sabe o que é aprender?

É… pois é. Essa pergunta é muito necessária para o assunto que iremos tratar hoje porque precisamos delimitar as coisas. Aprender não é só quando lemos algo ou lemos sobre algo. Aprender é um processo que faz com que nossas competências, habilidades, conhecimentos, comportamentos e/ou valores sejam modificados como resultado de experiência, formação, raciocínio e observação. A forma como isso tudo acontece é muito debatido ainda, no que chamamos de “teoria da aprendizagem”. 

Acho que vc entendeu o quão amplo isso é, certo? Praticamente tudo o que fazemos ou faremos é resultado de um processo de aprendizagem e aprender é algo que fazemos constantemente. A cada segundo nós observamos o mundo ao nosso redor e sempre que isso acontece, nossa percepção muda, pois nós aprendemos algo. É isso que nos dá aquela sensação de que quando nós lemos um livro pela segunda vez, nós o lemos de forma diferente. Sim… isso acontece porque nós somos pessoas diferentes, porque aprendemos um monte de coisas entre uma leitura e outra.

Agora a gente vai começar a complexificar um pouco a história; uma das coisas mais importantes para o mecanismo de aprendizado é a chamada “atenção voluntária”, que é basicamente aquele momento que nós escolhemos nos concentrar em determinada coisa, em determinado momento. Você consegue ler porque você escolhe prestar atenção naquilo, saca? Pois é. Como isso acontece, biologicamente falando:

O mecanismo do tronco cerebral superior e da formação reticular ativadora ascendente é responsável pela condição mais elementar de atenção, ou seja, o estado generalizado de vigília. No córtex límbico e na região frontal se processam formas mais complexas de atenção, seja voluntária ou involuntária, pois exige a possibilidade de reconhecimento seletivo de determinado estímulo e a inibição de respostas a estímulos irrelevantes para determinada situação. Os lobos frontais desempenham um papel importante no aumento do

nível de vigilância de um indivíduo quando ele estiver realizando uma tarefa.

Sendo assim, os lobos frontais participam decisivamente nas formas superiores de atenção. 

Quanta coisa bonitinha, não é mesmo? Mas o que tudo isso quer dizer, afinal?

COMO O APRENDIZADO VIRA APRENDIZADO

Eu falei tudo isso pra você só pra deixar muito claro que o aprendizado que temos, acontece em nosso cérebro, na parte orgânica desse aparato, o que quer dizer que embora a gente lembre de coisas utilizando uma espécie de voz interna ou ainda recorrendo a uma imagem, algo que parece mágicko se você for pensar bem, tudo isso só acontece porque nosso cérebro se modifica. Uma memória, uma ideia ou uma informação se manifestam através de ligações entre neurônios, que se comunicam de forma binária, ou seja, se comunicam entre um e outro com sim ou não. Para dar um exemplo melhor, digamos que você quer aprender sobre como se frita batata. Você vê um vídeo no Youtube e descobre que tem que cortar a batata e jogar em óleo quente.

Excelente. Para isso ficar gravado em sua memória, ele utiliza um caminho neural: o neuronio 1 se comunica com o 2 que por sua vez se comunica com o 3 que por sua vez se comunica com o 4 e, por fim, o quatro se comunica com o 5.

Ótimo. Temos um aprendizado aqui. Agora vem o pulo do gato:

Quando você vai finalmente fritar a batata e faz a rememoração do ato, esses neurônios são novamente ativados e a ligação entre eles fica um pouco mais forte. Aí você vê novamente o vídeo e a ligação, o caminho neural fica ainda mais forte. Então você faz novamente batata e esse caminho fica ainda mais forte, criando uma cadeia quase indestrutível. A isso, chamamos de “potenciação de longo prazo” ou em algumas literaturas, “potenciação de longa duração”. Quanto mais nós invocamos essa lembrança, mais forte ela fica e é exatamente por isso que existem algumas lendas populares sobre aprendizado: use uma palavra três vezes e ela será sua, coisa assim. Na verdade, não há uma quantidade de vezes que vc precisa fazer algo para a memória ficar forte, mas com certeza ela fica cada vez que você a usa. 

Agora… tem uma coisa muito interessante aqui; o nosso hipocampo, que é um dos lugares responsáveis por guardar informações, tem uma forma muito útil de fazer isso: as memórias que nós temos são feitas através de relações; informações novas são processadas usando parte de informações antigas, criando coisas novas. A gente chama esse processo de “criatividade”. E aqui, meus amigos… tudo fica especial:

Nós armazenamos uma coisa, geralmente utilizando pedaços de memórias anteriores para criarmos novas relações, o que quer dizer que, quanto mais relações semelhantes tivermos, mais a potenciação de longa duração fica forte. Ou seja; para você aprender sobre alguma coisa em específico, fica muito mais efetivo, se você aprender as coisas que rodeiam aquilo também. seria como utilizar a avenida “neurônios 1, 2, 3, 4 e 5” e também criar vias laterais, pra deixar esse caminho ainda mais forte. Então, veja seu vídeo sobre fritar batatas, mas também veja vídeos de como fazer batata canoa, batata no forno, batata cozida, como descascar batata, como fazer batata com casca e etc.

Compreender essas coisas que são semelhantes ao assunto central, que o cercam de alguma forma, faz com que a potenciação de longa duração aconteça a ponto de deixar seu aprendizado cada vez mais forte.

Acho que agora, finalmente, podemos chegar na parte principal do vídeo: 

APRENDIZADO RASO X APRENDIZADO PROFUNDO

Quando fiz o texto sobre a internet está nos deixando mais burros, eu levantei uma questão que fez este texto aqui acontecer: lá, eu dizia que a gente está consumindo mais conteúdo do que nunca na história da humanidade, mas isso tem nos deixado mais burros, mesmo que, para sermos inteligentes, precisamos consumir muito conteúdo. Parece algum tipo de contraditória, mas é nessa situação que reside toda a questão:

Para nos tornarmos inteligentes ou dominarmos um assunto, realmente precisamos assimilar muita informação, mas tem que ser informação, com disse na parte passada, que faça com que sua potenciação de longa duração se torne mais forte, ou seja, a informação a ser consumida, precisa rodear um mesmo assunto. Esse é exatamente o problema com as redes sociais: consumimos muita informação, mas não é informação de qualidade, porque os assuntos são muito diversos, o que faz com que nós criemos muitos caminhos neurais, mas nenhum deles fica suficientemente forte para se tornar um conhecimento. 

Aliás… é meio por isso que, quem faz uma faculdade, uma pós graduação e tudo o mais TENDE a ter mais conhecimento sobre aquilo que ele estudou; as disciplinas da universidade fazem exatamente o papel de levar o aluno a circular o mesmo assunto, de diversas formas, por diversos ângulos, criando diversas dessas vias de informação neural. Quanto mais “especializado” a graduação é, mais próximo o assunto se torna, mais profundo o conhecimento fica. Por isso que no Teoria da Magia, por exemplo, a gente tem uma concatenação de assuntos ao longo dos mais de 20 módulos muito bem pensado para que você consiga caminhar pelos diversos temas com um puxando o outro para, obviamente, criar e fortalecer essas conexões. Uma das diferenças do Teoria da Magia para a maioria dos cursos de Magia que existem por aí é que ele foi feito por um educador, ou seja, todo o conteúdo é pensado e organizado para fortalecer suas conexões neurais e, além disso, te dar pensamento crítico e te dotar de informação de qualidade para a vida toda.

É claro que isso tudo é quando falamos de dentro para fora, ou seja, quando falamos com relação a nossa aparelhagem neural. Precisamos levar em conta também, claro, o que vem de fora para dentro e termos em mente em que estamos pondo os olhos.
A primeira coisa que você tem que fazer aqui é ensinar seu cérebro a ter dúvidas. Dúvidas são saudáveis, interessantes e precisam existir. Se você tem certeza de alguma coisa, então pare de ter; isso costuma só ser vergonhoso para pessoas que não estão dispostas a aprender, o que quer dizer “para a maioria das pessoas”. Aqui no Brasil, onde o ensino é sucateado, deixado de lado e o aprendizado é menosprezado, nós gostamos de ter certezas e ficamos intrigados quando alguém não as tem. 

Claro… quando falo isso parece que estou te incentivando a duvidar da esfericidade da Terra ou da eficácia das vacinas, mas não é bem isso; estou incentivando você a se questionar sobre as coisas que você acha que sabe. Por exemplo: você sabe que vacinas são eficientes, mas você sabe o por quê?

Sim… essa é a questão: se perguntar e fazer isso de forma honesta e, quando essas perguntas surgirem, você precisa saber como encontrar as respostas. Quais são os mecanismos válidos para você chegar a alguma conclusão? Como compreender a realidade? Como chegar a verdade de alguma coisa?

Há diversas formas de você fazer isso e há diversas formas de você encontrar a verdade, a realidade. A ciência, com seu método científico, é uma delas, mas há outras. A grande questão que você tem que fazer é aprender a procurar:

Livros, por exemplo, são um bom lugar? Até são… mas lembre-se que livros aceitam qualquer coisa, o que quer dizer que não é porque está escrito num livro, que é verdade.

Relatos pessoais também não são uma boa fonte de conhecimento, porque em geral, nossos sentidos inventam coisas para convencer a gente do que é mais importante. Vi algo, senti algo, ouvi algo… não, não vá por aí. busque outras fontes. Vai ser difícil e confuso no início, isso eu posso garantir, assim como posso garantir que quando você pegar o ritmo da coisa, você se sentirá mais livre do que jamais foi.

MAS BELEZA, QUALIDADE DE INFORMAÇÃO

Certo, mas seria bobagem da minha parte querer convencer você a ler um jornal ou procurar um paper científico para qualquer dúvida que você tenha em mente porque, no final das contas, não é sempre que a gente tem vontade de se aprofundar sobre um assunto. Às vezes a gente só quer saber sobre uma coisa e tudo bem, faz parte. 

Aqui, a primeira coisa que você tem que fazer é separar o joio do trigo e admitir que tem coisas que você sabe e coisas que você só ouviu falar e tudo bem. 

Eu sei bastante sobre o cérebro e a mente, porque esse é meu campo de estudos. Mas eu não sei o suficiente sobre viagem espacial pra falar o que está certo ou errado sobre a queima de combustíveis em um foguete. Falar sobre a Space-X ou sobre como é feito a coleta de caviar? Não é comigo e, quando alguém fala algo sobre esse assunto, eu simplesmente não comento. A não ser o óbvio: caviar são ovas de peixe e, possivelmente, ele precisa ser pescado.

A segunda coisa é; a partir do momento que a informação chegou nos seus ouvidos e você não sabe bem alguma coisa sobre… como saber? Então anota essas 5 dicas pra você:

Parece mentira, mas a primeira dica é: LEIA O ARTIGO.

é muito comum as pessoas se basearem só nos títulos do que elas veem e hoje em dia, os títulos são feitos para serem chamarizes, o que quer dizer que na maioria das vezes eles são feitos na forma de Clickbait. o que está escrito nem sempre tem a ver com o que é falado na matéria, as vezes, não tem nada a ver. Dia desses vi um título de um texto dizendo que a Teoria do Big Bang havia sido refutada e, no texto em si, o que era falado é  que descobriram um adendo a teoria, ou seja, deixaram a teoria melhor. Um outro exemplo disso é uma que vi ontem: “Atriz conta segredo para emagrecer em uma semana”. Na realidade, a matéria conta que ela perdeu 200 gramas por semana e levou meses para ter um resultado aparente.

Quando você vir algum artigo na internet, preste atenção a URL dela. URL, se você não tem familiaridade com a internet, é o endereço que aparece na barra do seu navegador, o www alguma coisa. Geralmente, quem cria fake news costuma tentar dar uma cara de veracidade à matéria usando uma URL de um veículo grande, mas aí eles enchem o endereço de números e símbolos que te direcionam para um site falso. Isso acontece muito com golpes também.

A terceira dica importante é: verifique as datas. Muitas vezes, a notícia, por exemplo, está em um site confiável e é verdadeira, mas é de outra época. Quando falamos de ciência, então… meu deus. Um artigo científico só é válido, hoje em dia, quando é publicado até 5 anos. Depois disso, dada a nossa velocidade de novas descobertas, o artigo pode estar completamente defasado. É isso que acontece com as coisas que o Lair Ribeiro fala, por exemplo; o cara realmente é médico, mas ele se formou na década de setenta e parou de evoluir seus estudos desde lá. Então muito do que ele fala já foi comprovado falso, outras questões simplesmente são coisas da cabeça dele e isso compromete tudo o que vem a partir daí.

Sempre imagine que a informação que vem até você é falsa. Se ligue nas fontes e saiba de uma coisa: Em épocas de inteligência artificial, qualquer imagem, vídeo ou texto pode ter sido adulterado por esse e por aquele fim. Criadores de memes de internet são mestres em adulteração de fatos por conta da piada. Quando alguma coisa chegar até você e despertar sua atenção por algum motivo, use alguma ferramenta de checagem para saber de onde a informação vem. O próprio google tem essa ferramenta.

E por último, duvide e confira. Existem vários sites confiáveis de checagem de informação, como a Lupa, por exemplo, mas se a dúvida persistir, não compartilhe a imagem e não assuma aquilo que você leu como verdade. É simples assim. 

Pra gente mudar essa história que vem acontecendo ultimamente com a propagação de fake news a principal coisa que tem que acontecer vai além da simples fase do não compartilhar; é uma questão de mudança de postura, mudança de pensamento. Acima de qualquer coisa, tenha em mente que você não precisa saber de tudo e que isso não é vergonhoso, 

Espero que você tenha uam ótima vida, seja uma pessoa melhor do que foi até agora e tchau.

Afinando o cérebro – COMO O CÉREBRO APRENDE?

REFERÊNCIAS

https://www.afinandocerebro.com.br/post/como-o-c%C3%A9rebro-aprende?gclid=Cj0KCQjw8e-gBhD0ARIsAJiDsaViAnleGYd-ZYccg3u0Gf7vj8Ctf24qW8Zrih_Mzka2zVyJN7mTGH0aAlb2EALw_wcB

BRITES, Clay. Como nosso cérebro aprende.

Luiza Elena Leite Ribeiro do Valle – Temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem

https://www.researchgate.net/profile/Luiza-Elena-Valle/publication/309374409_Temas_Multidisiciplinares_de_Neuropsicologia_e_Aprendizagem/links/580b94aa08aecba93500cf6e/Temas-Multidisiciplinares-de-Neuropsicologia-e-Aprendizagem.pdf#page=125

Cooke SF, Bliss TV (2006). «Plasticity in the human central nervous system». Brain. 

Bliss TV, Collingridge GL (1993). «A synaptic model of memory: long-term potentiation in the hippocampus». Nature. 361 (6407): 31–39.

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