Nino Denani

Que tal se a gente falasse um pouco sobre desenvolvimento mediúnico?

Muitas religiões ou filosofias (tá, eu sei… não são exatamente filosofias, mas o pessoal gosta de usar esse nome, não é mesmo?) utilizam em seu dia-a-dia, seu jeito de ser, algum tipo de contato “espiritual”. Seja em forma de incorporação, como na umbanda, de possessão, como no candomblé ou de intuição, como no Kardecismo, o contato espiritual está no cerne destas doutrinas, sendo o grande atrativo delas e o motivo pelo qual seus adeptos alteram suas vidas. 

Claro, estamos partindo do pressuposto de que realmente existam essas “criaturas”, esses espíritos e também partimos do pressuposto que, eles existindo, também exista a possibilidade de algum tipo de contato entre o mundo material e o mundo espiritual. Aqui começam algumas diferenciações entre as doutrinas, que tem a ver com a forma como eles encaram essa situação:

Algumas doutrinas partem do princípio que esse contato é algo natural em todos nós;

Outras doutrinas entendem que certas pessoas nascem com algum tipo de habilidade que propicia esse contato e;

Um terceiro tipo de doutrina compreende que o contato só é realizado com certas palavras mágicas e movimentos coreografados.

De uma forma ou de outra, em geral o que se defende a partir disso é que o adepto precisa de um tempo de aprendizado para, ao menos, conseguir “controlar” essa capacidade e é a esse tempo que costumamos chamar de “desenvolvimento mediúnico”, cujo período pode ser mais ou menos curto, durar alguns dias ou anos, dependendo da forma como o líder do grupo vê a situação e o que ele aprendeu ao longo de sua própria jornada.

Agora, eu gostaria de fazer uma provocação: 

Você já parou para pensar, por um minuto, o que está DE FATO acontecendo ali? Quer dizer, todos nós já ouvimos histórias de fantasmas e espíritos, a maioria de nós que frequenta o WeMystic tem conhecimento em vários graus sobre isso e tem uma certa fé na existência e contato espiritual, cada um a seu jeito. Independentemente disso, nós precisamos tentar nos manter racionais e compreender que o que fazemos é, no fim das contas, uma experiência interna: existindo ou não existindo espíritos, o que nos ocorre é algo que macula de alguma forma nosso corpo, que se manifesta através de nosso corpo. Então a pergunta é: e se esses contatos, no fim das contas, não forem espirituais? 

Isso! E se não forem? Eu sei que parece um choque, mas pense por um minuto que nada se prova (a não ser através de experiências pessoais, que não constituem provas) da existência de espíritos, mas de fato, algo acontece ali, não é?

Pois é… vamos deixar de lado um pouco nossas crenças e vamos tentar pensar além delas: O que acontece no desenvolvimento mediúnico se, por acaso, não existirem espíritos? Para entender isso, precisamos compreender o cérebro.

Nosso cérebro tem uma espécie de válvula de escape para momentos com grandes entradas de informação, chamada “dissociação”. Essa dissociação acontece quando a gente está no meio de um monte de coisa acontecendo, então nosso cérebro se sobrecarrega e dá uma leve desligada. Quem já viajou de ônibus e ficou olhando pela janela sabe exatamente o que é isso, porque sabe que, em algum momento, a mente simplesmente apaga. Esse apagão é uma dissociação que acontece por conta do tanto de estímulos que passam e precisam ser processados pelo cérebro, no caso, o tanto de informação que vem do lado de fora do ônibus.

Quando estamos em um terreiro, centro ou coisa assim, também estamos sendo sobrecarregados por um monte de informações: música, aromas, imagens, pessoas, roupas… que são diferentes do que vemos costumeiramente e isso faz nosso cérebro, em algum momento, principalmente quando estamos sendo estimulados pelo rito em si, apagar também.

Só que a gente não pode simplesmente “apagar” do nada, porque nós precisamos estar alertas para as coisas da vida, lembrando que somos primatas recém saídos da floresta, então nosso cérebro tem um “equipamento salva vidas” que a gente costuma chamar de “assunção arquetípica”, ou seja, nesse momento de apagão do cérebro, uma parte um pouco mais inconsciente nos manda informações que já estão gravadas nele a fim de que consigamos continuar nos protegendo, só que essas informações pré-gravadas nos fazem agir de formas estereotipadas, meio automáticas, que nós podemos distinguir ou reconhecer a partir de um arquétipo qualquer de nossas vidas. Quando em uma religião, esses arquétipos nos são ensinados e são impressos em nosso inconsciente exatamente pela repetição, num sistema chamado de “potenciação de longo prazo”, muito parecido com o que a gente faz quando dirige um carro ou executa uma dança, toca um instrumento ou escreve no computador sem olhar o teclado: essas informações são gravadas em nosso cérebro e ficam lá guardadas. Quando precisamos, elas são “puxadas” para fora e então executamos a ação sem pensar muito nisso.

Isso é exatamente o que chamamos de “incorporar” e o processo de desenvolvimento é exatamente para criar essa “rotina” em nossos cérebros.

Por isso em sistemas mais modernos de Magia, nós conseguimos trabalhar assunções de personagens da cultura pop, por exemplo: porque conseguimos gravar em nosso inconsciente informações suficientes para criarmos um arquétipo desse personagem e trabalhar com ele, ou seja, a gente pode, segundo a Pop Magick, incorporar o Batman.

Nas religiões, esses arquétipos são impostos a nós. Na Magia, eles são criados pelo próprio Mago, num processo chamado “assunção”. Quem está por dentro dos recantos da Magia já ouviu falar sobre “Assunção de Forma Deus” e é exatamente isso: “incorporar” deus.

Esse tipo de desenvolvimento a gente costuma fazer no Nosso Templo, aqui em São Paulo e, depois de explicar todos os gatilhos e o funcionamento, vemos os magistas trabalhando com os mais diferentes arquétipos, de acordo com o trabalho que eles precisam realizar. Se você quiser saber mais sobre isso, que tal bater um papo com a gente?

Ache a gente no instagram @nossotemplosp.

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