Nino Denani

Nós gostamos de nos comunicar. Isso faz parte da nossa vida em sociedade e é por conta desta forma refinada de linguagem que nós conseguimos chegar onde estamos e conseguimos, também, manter a sociedade onde vivemos. A comunicação está presente em praticamente todos os momentos de nossas vidas e nós ficamos tão bons nisso que acabamos por criar diversas formas de nos comunicar. 

A linguagem falada, por exemplo, é um exemplo clássico disso; uma série de sons concatenados, criados por alguns músculos especializados em nossa garganta, moldados pelas posições de nossa língua, lábios e bochechas, devidamente decodificados por ossículos especializados em nosso aparelho auditivo, que captam a vibração do ar, transformam vibração em estímulos elétricos, transmitidos para o cérebro que reconhece e identifica o som, que por sua vez, acessa uma série de “arquivos” em nosso banco de dados interno e nos dá um significado específico.

Evoluímos esse processo ao longo de milênios de existência até o refirnarmos de tal forma que nos tornamos especialistas em comunicação. Tão especialistas que criamos formas e mais formas para fazer isso e, algumas delas, com funções bastante específicas.

A própria fala não comunica somente o que está sendo falado, mas também, toda uma riqueza de sentimentos, dependendo do som, da impostação e tudo o mais.

Tudo isso, entretanto, não passa de símbolos para nós, que são codificados de formas a nos dar uma clara ideia do que estamos querendo comunicar.

Ou não.

Todo mundo que adentra o campo da Magia começa se empolgando com os símbolos que nós usamos. Em geral, as pessoas olham para trás na linha do tempo e ficam tentando decifrar o que cada coisa quer dizer, para que usar isso ou aquilo até que uma espécie de “febre” se aposse de cada um e todos acabem por construir sua própria verdade a respeito disso. 

Esse é o processo natural e, no final das contas, é exatamente para isso que usamos os símbolos; para manter os profanos do lado de fora. 

Como disse no preâmbulo deste texto, nós nos tornamos especialistas em comunicação e utilizamos de diversas formas de comunicar e, vou te contar um segredo: basicamente todas essas formas são simbólicas. Ouvir música é trabalhar com símbolos, assim como conversar é. E não estou aqui falando somente da fonação das sílabas, estou falando também da forma como isso é feito, do volume, da forma, da textura e de tudo o que envolve isso: olhos, sobrancelhas, orelhas, nariz. Tudo isso forma um único símbolo, o que quer dizer, basicamente, que embora seja possível que transmitamos uma mensagem utilizando somente letras para nos lembrar de sons, uma conversa trabalha com uma série enorme de símbolos que comunicam muito além do que esperamos ou pretendemos.

Um franzido na testa enquanto você fala um “eu te amo” pode até soar grosseiro.

Agora… porque estou falando sobre isso tudo, quando na verdade, este texto é sobre símbolos dentro do paradigma mágicko?

Simples: antes de você se digladiar com um símbolo, é preciso que você compreenda o que um símbolo é e qual é a sua função. Então vamos começar do começo:

O QUE É UM SÍMBOLO

Antes de eu começar a falar sobre isso, preciso te contextualizar de uma coisa: aprender a decifrar os símbolos pode atuar em sua vida de uma forma que você nem imagina. E nem imagina porque você nem imagina o que pode ser um símbolo.

Bom, mas esta parte do texto é dedicada a te explicar exatamente isso, não é? Então vamos lá:

Segundo nos conta o filósofo Adam Schaff no livro Introdução à Semântica, um símbolo é algo do mundo objetivo que representa algo do mudo subjetivo, ou seja, o símbolo pode ser entendido como uma coisa que representa outra coisa, o seu objetivo de existir, ou ainda, seu objeto. A função de um símbolo é, então, estar no lugar do objeto, sem que ele próprio seja o objeto. 

Agora, existe uma coisa muito importante que todos vocês precisam saber: Segundo a semiótica Peirceana, em estudo de Joeliton Silva e Adjane silva

Ao representar um objeto, o signo produz na mente do intérprete algo que pode ser um novo signo ou um quase signo, que se relaciona com o objeto não de maneira direta, mas através da medição do signo anterior“. 

Isso quer dizer que quando você observa um símbolo de alguma coisa, na sua mente, automaticamente, se cria um novo símbolo com um novo significado, que é uma espécie de mistura entre o objeto que o símbolo representa, mais o que o objeto representa para você.

Parece meio complicado, mas a questão é a seguinte: Digamos que um gesto represente uma cadeira. Eu criei esse simbolo pra dizer para você que há uma cadeira aqui. Quando você observa o símbolo, entretanto, na sua mente, o significado do gesto que fiz se mistura com sua própria relação com a cadeira e pode ser que o gesto passe a representar a você, um descanso.

Isso parece estar bem longe da nossa realidade de ver um pantáculo qualquer e compreender que estamos protegidos de qualquer maldade, mas vou te dizer uma coisa: os símbolos mágickos funcionam exatamente assim. 

Como você se relaciona com um pentagrama?

Você o observa, lembra das apostilas que leu na internet e, automaticamente, se sente seguro porque o que você leu sobre o símbolo é que ele é um símbolo de proteção?

Então esta é exatamente a questão. O símbolo em si só representa uma geométrico específico, composto por triângulos e um pentágono. Uma segunda camada de observação já nos dá a impressão de que este símbolo representa uma estrela. Agora, você, ao olhá-lo, cria aquele tal de subsímbolo: ele não representa só a estrela, representa que a estrela protege você de algum jeito, ou que você está seguro por conta da estrela.

Esta situação é muito importante de compreender dentro do estudo simbólico no viés da Magia pois, basicamente, tudo o que fazemos é criar, interpretar e reinterpretar símbolos, criar sub símbolos e reinterpretá-los e fazer tudo isso de novo. Quer um exemplo?

Já ouviu falar do bode de Mendes?

Mendes era uma cidade egípcia, hoje conhecida como Tel Ruba. Lá, uma divindade era cultuada, provavelmente, dentro do culto que eles chamam de “abertura de boca”, que é basicamente quando Ba, a alma, sai do corpo, enfim… sabe-se pouco dele e não importa muito pra gente aqui, a não ser saber que era um deus com cara de bode e cultuado em Mendes. Isso tudo no Egito antigo.

Lá pelos anos 1854 e 1856, Eliphas Levi lança seu aclamado Dogma e Ritual de Alta Magia, onde ele nos mostra uma figura bastante significativa: Baphomet. No livro, o próprio Levi vem a chamar Baphomet de “bode de Mendes”, uma clara alusão ao deus egípcio. Só que, além de reconfigurar o símbolo que agora não só tem a cabeça de bode, como nos egípcios, também tem patas, seios e asas.

Você pode me dizer agora: Nino, essas diferenças não fazem o símbolo ser outro?

Eu vou responder: sim! você está meio certo… mas não é sobre isso meu exemplo: o exemplo que estou trazendo é: De um deus egípcio, cultuado mais tarde (possivelmente) pelos templários como uma forma simbólica da dualidade da humanidade e do caráter da vida, ou seja, a imagem em si não representa um ser ou um deus, mas sim uma espécie de resumo das leis herméticas que você já conhece hoje, o mesmo símbolo é usado com o significado de…

Belzebu ou lúcifer por algumas quimbandas e umbandas por aí.

Eles estão errados?

Claro que não e essa é a beleza de um símbolo: ele mostra exatamente o que tem que ser mostrado a quem precisa ver e esconde o que precisa ser escondido de quem não precisa.

Prova disso são as pessoas que ficam buscando o verdadeiro significado do tetragrammaton ou fazendo cursos e mais cursos sobre os segredos dos pontos riscados da umbanda,  enquanto a gente só usa isso, para o que quiser, do jeito que bem entender.

Quer dizer, nem tanto.

COMO USAR UM SÍMBOLO

O grande problema de usar um símbolo é que ele precisa comunicar o que você quer que seja comunicado, a quem você quer comunicar. Isso pode parecer algo simples, mas vou te contar que não é tanto quanto parece.

Imagina que você é um Mago e precisa fazer um rito para um cliente. Como você vai escolher o que usar? Quais coisas você precisa despertar na pessoa e como fazer isso? Geralmente, é nesses momentos que nós apelamos para o uso dos símbolos. Mas quais símbolos usar?

Pois é… aqui está o primeiro problema: Geralmente a gente constrói o cabedal simbólico de um rito a partir de nossa própria experiência, mas essa experiência não é a mesma do nosso solicitante, o que pode causar um ruído na comunicação e, no melhor dos casos, não dar resultado nenhum. Esse é mais um dos motivos pra nós, Magos, precisarmos estudar religião como um todo: no brasil, onde mais de 80% das pessoas são cristãs, saber o que determinados símbolos demonstram a elas, como a cruz ou um crânio, é fundamental para que a gente consiga comunicar direito. No templo Hermes do Grande Oriente, onde a gente faz o rito aberto da Ordem do Grande Oriente Místico, por exemplo, nós mantemos um crânio no altar, com velas pretas e vermelhas, na maioria dos casos. Por mais que isso, pra gente, signifique somente os pilares da energia do Fogo e o crânio, a igualdade com que tratamos todos ali dentro, para um cristão, é bem possível que o crânio demonstre algo maléfico, compreende? A sensação para a pessoa não vai ser a mesma que queremos demonstrar. Claro que, para o rito aberto, a gente já se programou para essa negativa de algumas pessoas e nós continuamos usando o crânio porque queremos despertar essa… “negatividade”, por assim dizer, em quem vai lá, dado que nossa ideia macro é quebrar paradigmas.

Então a primeira coisa que você vai fazer para usar um símbolo ou escolher quais símbolos usar é saber para quem o símbolo vai mostrar alguma coisa. 

Depois você precisa saber que coisa quer mostrar e aí, usar o cabedal da pessoa para isso. Em geral, aposte no cristianismo que é 80% de chance de você acertar. Isso quer dizer que não importa muito o que uma estrela quer dizer para você, é mais seguro você dar uma olhada no “senso comum” do significado do símbolo e aí usar… depois, com mais tempo, você ressignifica ele.

De um jeito ou de outro, o símbolo é uma ferramenta muito usada exatamente porque ele se comunica com quem tem que se comunicar e só. Ele pode ser usado à mostra, como nós fazemos, mas só quem sabe o motivo daquele símbolo estar ali é quem o criou e para quem foi criado. Há símbolos universais que você pode usar, mas mesmo eles têm suas particularidades.

Aprender a usar os símbolos pode fazer a diferença não só no seu rito mágicko, mas também na sua vida, pois ela te mostra várias informações de forma simbólica.

Espero que vc tenha uma ótima vida, seja alguém melhor do que foi até agora e tchau.

Referências usadas na criação deste texto:

SCHAFF, Adam. Introdução à semântica. Coimbra: Almedina, 1968.

SILVA, Joeliton Chagas. SILVA, Adjane da Costa Tourinho – PRESSUPOSTOS DA TEORIA SEMIÓTICA DE PEIRCE E SUA APLICAÇÃO NA ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES EM QUÍMICA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *